No último lançamento de George Miller, FURIOSA: Uma Saga Mad Max, o mundo (ou Austrália) distópico ganha vida mais uma vez com uma vivacidade sombria e energética. A habilidade de Miller em criar um universo devastado e violento, que se assemelha ao nosso mundo em muitos momentos, gera uma sensação inquietante no decorrer do longa.
Ao longo das décadas, os visuais escaldantes e os temas apocalípticos de Miller tornaram-se mais relevantes, desfocando as linhas entre seu mundo fictício e nosso ambiente em deterioração. Este último filme, no entanto, traz uma nova história de origem, da personagem introduzida em Mad Max: Estrada da Fúria: FURIOSA – it’s Furiosa, not Furiosar.
Experiências Desumanizadoras
Furiosa: Uma Saga Mad Max mergulha nas experiências brutais e desumanizadoras de uma jovem Furiosa, inicialmente protagonizada por Alyla Browne e depois interpretada por Anya Taylor-Joy, que assume o papel anteriormente desempenhado por Charlize Theron. Do paradisíaco Lugar Verde de Muitas Mães, sua vida idílica é destruída quando uma gangue de motoqueiros a sequestra, desencadeando uma série de eventos que moldam sua jornada da liberdade à cativeiro e, por fim, a uma forma de soberania circunscrita.
As primeiras cenas do filme definem o tom de adrenalina que o filme segue. O sequestro de Furiosa pelos motoqueiros, liderados pelo extravagante Dementus (Chris Hemsworth), é uma sequência de tensão que evoca algo próximo de um thriller de horror – até comentei com meu amigo do lado, no cinema. A maestria de Miller em conduzir cenas de ação, com cenas de close e tomadas aéreas pelo cenário desértico, dão um contexto de pertencimento ao telespectador gritante.
Desolação Psicológica de FURIOSA
Como se não bastasse perder tudo, a juventude de Furiosa é marcada por uma série de eventos de opressão sistêmica e desumanização na fortaleza governada pelo tirano Immortan Joe (Lachy Hulme). Eu gosto do contraste do filme de que, quando há liberdade, você está no meio do deserto; em comunidade, uma tirania desenfreada e opressiva. Esse contraste não apenas destaca a vastidão física da terra devastada, mas também a desolação psicológica do sofrimento de Furiosa. Gênio.
A interpretação de Anya Taylor-Joy ao longo do filme se traduz em olhares e expressão, dando uma nova dimensão à personagem e diferenciando de Theron, mais explosiva e uma raiva extremamente crua. Os grandes e expressivos olhos de Taylor-Joy tornam-se um ponto focal, capturando a turbulência interna e a determinação da personagem. Mais um contraste aqui com sua leveza física em um ambiente truculento, vil e robusto. Sua astúcia, mais que no filme de 2015, é evidenciada e determinante para o andamento de sua jornada.
Já o destaque em grandes atuações no filme vem, por incrível que pareça, de Chris Hemsworth como Lorde – vermelho, sombrio, seja lá o que for – Dementus. Chegando como que “não quer nada”, sua força física não é o central, mesmo no universo de Mad Max. Há uma desconstrução do mito parrudão das areias para algo mais cômico e teatral, mas não deixando sua aura vilanesca de lado.
Furiosa em cinco capítulos
Miller mistura ação desenfreada como em Estrada da Fúria, como um conteúdo mais temático e focado na gasolina, visto em Mad Max 2 – A Caçada Continua, com Mel Gibson, de 1981. De espetáculo visualmente deslumbrante da sobrevivência física, também passamos por momentos de horror e resiliência emocional e psicológica. Sua aliança com Pretoriano Jack (Tom Burke) adiciona uma camada de complexidade à sua personagem, mostrando sua capacidade de confiar e ser leal em meio ao caos.
A estrutura narrativa de “Furiosa,” dividida em cinco capítulos explora diferentes facetas da personagem de Furiosa e do mundo que ela habita. De sua infância à jovem adulta, temos uma expansão de mundo evidente e toda uma base da mitologia para o que vemos em Estrada da Fúria. Muito se discute: era necessário este filme? Pode ser que não, mas ainda bem que teve!
Atenção aos detalhes e um pouco de CGI
Como seu antecessor, Miller utiliza muitos efeitos visuais e práticos neste filme. Porém, se estende, já que a utilização de CGI se torna corriqueira durante todo o longa. Furiosa: Uma Saga Mad Max traz o tão conhecido nível de precisão e criatividade do Diretor, mas revela que esta fórmula não está livre das facilidades tecnológicas da atualidade.
Aos amantes de Smash Bros., destaco a cena da primeira metade do filme que se passa em cima de um caminhão – com dois motores – cheio de traquinagens, expandindo os limites do road movie.
Em conclusão, Furiosa: Uma Saga Mad Max é uma realização notável que expande e enriquece o universo e a mitologia “Mad Max.” Com boas atuações, particularmente de Anya Taylor-Joy e Chris Hemsworth, e a direção criativa de Miller, o filme oferece uma narrativa cativante e visceralmente carregada que complementa a ação frenética.