O ano é 1963, a Ford Motor Company entra em contato com Enzo Ferrari para iniciar uma negociação de compra da fabricadora mais invejável do mundo, a qual se deu por encerrada quando o negócio envolve o programa de corridas da Ferrari, essa que venceu as 24 horas de Le Mans em 1958, 1960 à 1965.
Henry Ford ll, irritado com Enzo Ferrari, dirigiu sua divisão de corrida para um único propósito, vencer a Scuderia Ferrari; eis que nasce o famoso Ford GT40 e a prova do ego inflado que a Ford Motors tinha na década de 60, adaptado de forma magnífica pelas mãos do diretor James Mangold, atuado por Matt Damon e Christian Bale, Ford vs Ferrari se coloca como um dos melhores filmes de 2019 ao lado de Coringa, e possivelmente um concorrente nas premiações do cinema.
Dois grandes nomes do automobilismo
Baseado em uma história real, o arco trás a trajetória de dois grandes nomes do automobilismo, Caroll Shelby (Matt Damon), fundador da Shelby American e criador dos carros Shelby Mustang e Shelby Cobra, e Ken Miles (Chrsitian Bale), imortalizado no Hall da Fama da Motorsports de 2001, responsável por pilotar o Ford GT40 nas 24 horas de Le Mans, mas que Leo Beebe (Josh Lucas), diretor do programa de corrida da Ford/Shelby não o vê como boa imagem para a empresa por ser muito “bocudo” e estourado, essa relação de Shelby e Miles é o foco da trama em todo o momento, mas não se destaca do início ao fim, isso é mérito do elenco do filme.
Vemos Enzo Ferrari (Remo Girone) figurado como o símbolo de poder, um padrinho, il capo di tutti capi de uma das maiores marcas de automóveis de todos os tempos, que na época entrou em falência e foi comprada pela Fiat, a Ford não conseguiu porque Henry Ford ll (Tracy Letts) sempre se preocupou demais com a grandeza da Ford Motors, a publicidade e propaganda acima de tudo, até mais que os próprios carros, e toda essa transação entre Ferrari e Ford mediada pelo Lee Iacocca (Jon Betrayal), vice-presidente da Ford na época, o faz ir até a Shelby American para começar a negociação para fazer da Ford uma escuderia de corrida, e a partir daí, se fez a história e o roteiro desse filme.
Corrida dramática
A dupla Shelby e Miles também é responsável pelo desenvolvimento da trama, a cada momentos juntos em tela, algo marcante da história é deixado em segundo plano por causa da relação deles, início para o meio do filme que se mostra arrastada, mas não percebida por causa do trabalho impecável de atuação e diálogo em cena que consegue preencher no momento em que o ponto principal da trama está sendo construído, até chegar no marco histórico que rege o filme, a tão falada 24 horas de Le Mans de 1966, como dito no nome da competição, é uma prova de resistência que dura 24 horas onde reúne as maiores marcas automobilísticas do mundo, realizada até hoje.
A partir daí é aquele gênero de corrida já visto em muitos filmes, o drama do carro passar por vários problemas mecânicos, a carga horária da corrida, a ambição por derrotar a Ferrari, tudo isso acumula em momentos de aflição e ansiedade pela conclusão da corrida, e seu emocional embarca junto com os personagens, fazendo disso uma espécie de herói vs vilão que se passa em uma corrida, pense no filme Carros da Pixar, mas sem toda a fantasia e glamour da Disney, muitos menos ficar virando só para a esquerda, aqui é mais graxa, suor, lágrimas e ego escorrendo pelos cantos da tela à uma velocidade de explodir os motores.
Respeitando a história
Sabendo que pode ter alguém reclamando por alguma coisa diferente da história verídica, vale lembrar que isso é uma produção de Hollywood, com um elenco que chama a atenção e investimento comercial, contudo se mostra um filme que não só respeita a história como apresenta um marco importante do automobilismo a qual muitos podem desconhecer, trabalhado em uma bela história e elenco invejável, engrandecendo o conjunto da obra e o colocando como um dos melhores filmes do ano, mesmo não tendo a grande publicidade de um filme de quadrinho, a qualidade o coloca ao nível do tão aclamado como Coringa a ponto de bater de frente em alguma premiação do Oscar, talvez não como ator, mas em roteiro, direção e/ou fotografia, segundo semestre é marcado por produções que focam premiações e Ford vs Ferrari se coloca nessa lista, talvez possa beliscar alguma estatueta.
Ford vs Ferrari traz história linda que trabalha todos os elementos de um conflito entre grandes empresas e o drama de dois grandes nomes ofuscados pela escuderia, a relação Shelby e Miles transforma a Ford Motors como a heroína querendo vencer a grande vilã Ferrari, até chegar o ponto que não existe lado quando o foco se mostra o mesmo, o logotipo sendo aclamado pela mídia e a venda de carros por valores exorbitantes, explorando o trabalho árduo de terceiros e o descartando como um simples degrau para se manter no pedestal momentâneo como a marca que se mostrou ser “melhor” que a Ferrari em um momento da história.