A aguardada sequência da franquia britânica de horror pós-apocalíptico chegou aos cinemas na última quinta (19) com “Extermínio: A Evolução”, tendo a proposta de renovar o fôlego da saga que redefiniu o gênero zumbi no início dos anos 2000. Sob a direção de Danny Boyle, o filme traz uma nova abordagem visual e narrativa para o universo devastado pelo vírus da raiva.
Desta vez, o elenco encabeça nomes de peso, com Aaron Taylor-Johnson e Jodie Comer como protagonistas e o esplendido Ralph Fiennes. Quem se junta a esse time de estrelas como uma baita revelação é o jovem Alfie Williams, de apenas 14 anos de idade, que interpreta Spike, filho dos personagens Jamie (Johnson) e Isla (Comer).
Premissa de Extermínio: A Evolução
A história se passa 28 anos após os eventos do primeiro surto viral que dizimou grande parte do Reino Unido, fazendo referência ao título original do fime, 28 Years Later. Agora, o mundo mudou drasticamente e o que restou da civilização vive em ilhas isoladas de sobrevivência. É em uma dessas que vivem Jamie, Isla, Spike e o pai da moça.
Em uma espécie de ritual de passagem, quando meninos completam 13 ou 14 anos podem sair da ilha para caçar infectados. Jamie decide levar Spike para explorar territórios devastados em busca de respostas sobre a origem e possível cura do vírus quando o garoto tem apenas 12 anos, afirmando que ele já estava pronto. No entanto, o que os rapazes encontram é um novo estágio da infecção: mais inteligente, mais brutal e mais implacável.
O subtítulo “A Evolução” não é apenas simbólico: ele indica uma mudança biológica e comportamental nos infectados. Eles não são mais apenas criaturas irracionais; há sinais de organização, comportamento estratégico em grupo, o que levanta questões sobre os limites entre a humanidade e a monstruosidade.
Análise
Não é necessário assistir os filmes antecessores para entender ou apreciar a história deste filme, porém, de início ele dificulta um pouco o entendimento do espectador ao deixar no ar algumas pequenas dúvidas referentes ao conhecimento prévio da franquia. Contudo, faz um bom trabalho de imersão à medida que a história avança, dando um foco à narrativa a ponto de ignorarmos tais duvidas. O foco em questão, trata-se da jornada heroica de Spike que, após sofrer uma decepção com o pai, que é o próprio representante da masculinidade tóxica, passa a questionar seus valores e decide enfrentar novamente a floresta repleta de infectados, mas desta vez em busca de um médico que possa curar sua mãe que está gravemente doente. Ele leva consigo a mulher desorientada pela doença e precisa cuidar dela durante todo o caminho.
A trama ganha uma boa adição quando em determinado momento desse trajeto eles conhecem o personagem Erik Sundqvist (Edvin Ryding), um soldado que vive em um lugar muito mais desenvolvido e moderno do que a ilha com costumes medievais onde Spike nasceu e cresceu, e apresenta coisas do mundo atual ao garoto, como um aparelho de celular e fotos de pessoas com procedimentos estéticos, o que inclusive, rende uma cena bem engraçada sobre isso. Sua breve presença funciona como um alívio cômico em meio ao tom sombrio do filme, de certa forma, e intencionalmente nos apegamos à ele.
É quando a dupla finalmente encontra o médico Dr. Kelson, interpretado brilhantemente por Ralph Fiennes, que temos as melhores cenas. Kelson é aquele típico curandeiro ancião de floresta, que possui inúmeros conhecimentos e filosofias ancestrais e os repassa a quem o procura. Quando Isla recebe por ele o seu diagnóstico, temos uma linda e emocionante sequência que aborda a morte de forma macabra e sensível ao mesmo tempo. A cena é objetiva e sem delongas, afinal, o filme precisa correr, porém, é extremamente impactante.
Pontos altos
Além dos personagens principais, temos outros protagonistas: os zumbis, que receberam o devido destaque com uma impressionante qualidade visual e um realismo sombrio. A maquiagem, aliada aos efeitos digitais, criou criaturas aterrorizantes, com detalhes que vão desde a textura da pele deteriorada até os olhos vidrados e cheios de fúria. A equipe de efeitos especiais conseguiu captar com maestria o estado avançado de mutação dos infectados, traduzindo em tela uma sensação constante de ameaça e tensão. As cenas de perseguição ganham ainda mais impacto graças à movimentação frenética dos zumbis, potencializada por uma fotografia crua e visceral que amplifica o terror. É um trabalho visualmente marcante, que respeita a estética da franquia e eleva ainda mais o nível da produção.
As atuações do elenco são um dos pilares do filme. Aaron Taylor-Johnson mais uma vez entrega preparo físico e emocional em cenas de ação e conflito, muito do que estamos acostumados a ver em seus filmes de ação. Isso somado a naturalidade com que ele interpreta um cafajeste, nos faz sentir a raiva que o personagem busca nos despertar. Foi uma boa escolha de elenco; Ralph Fiennes, como de costume, traz profundidade e gravidade ao seu papel. Com uma presença austera e um domínio absoluto de cena, ele interpreta um personagem enigmático, cujas motivações e dilemas morais enriquecem a trama com nuances e camadas. O ator confere ao filme um peso dramático que o eleva acima do mero terror apocalíptico; Já Jodie Comer brilha em cada aparição, equilibrando força e vulnerabilidade de forma tocante. Sua personagem é complexa e resiliente, e a atriz transpassa isso com autenticidade e carisma. Seus momentos de silêncio dizem tanto quanto seus diálogos, revelando uma profissional em total controle de sua performance. Acreditamos nas suas dores, angústias e medos.