Com youkais perambulando a terra o bastante para qualquer um voltar aos tempos de Inuyasha, Dororo estreia na Temporada de Inverno 2019 fazendo justiça à grandeza seu criador, Osamu Tezuka.
Se você está associando Tezuka com Astro Boy, um aviso: Dororo é bem mais intenso em sua violência e menos infantil do que se esperaria do amigo de nosso querido Maurício de Sousa.
O Mal Ronda a Terra
Me perdoem os fãs de Astro Boy; também vivi momentos intensos o assistindo quando criança. E a verdade é que o Dororo de 1969 também é tão cartunesco quanto Astro Boy.
Mas a intensidade de que falo para esse remake é do tipo onde um monge é retalhado logo de cara e tem o sangue jorrado nas paredes do templo logo no primeiro episódio. E ora, isso foi uma surpresa! Nessa adaptação do mangá de Tezuka é recriado um ambiente difícil, onde a vida é de difícil sustento e sair da segurança dos vilarejos pode significar sua morte nas mãos de um monstro.
É nesse ambiente de dificuldade em que um senhor de terras, face a más colheitas e fomes iminentes recorre ao auxílio de demônios que habitam em estátuas num templo. Os demônios o ajudariam, mas em troca, tomariam o que havia de mais precioso para ele.
Foi aí onde no dia do parto de sua mulher, um raio atinge a casa e nasce uma criança sem olhos, sem pele, sem membros, enfim, uma completa aberração. Essa fora a reivindicação dos demônios. Contudo, mesmo desprovida de quase todo o corpo, a criança ainda vivia; e assim ela foi deixada à própria sorte num barquinho à deriva por uma criada.
A Cor da Alma
Vão-se os anos e passada essa introdução o foco da história muda para um menino de rua que ganha a vida revendendo o que rouba. Apesar de todo o episódio descrito antes, esse garoto leva o título do anime: Dororo, o auto proclamado melhor de todos os ladrões (dorobo, em japonês). O pequeno ladrão é o único até agora que mantém o traço típico de Osamu Tezuka, enquanto todos os personagens restantes recebem traços menos ovais e mais afinados, típicos dos animes shounen.
Quando Dororo é pego pelos homens a quem ele havia roubado antes, um monstro de lama aparece à espreita e começa a devorar os homens, um por um. E antes de ser devorado por último, um jovem aparece com uma lâmina escondida dentro de um braço artificial e mata o monstro sem dificuldades.
Apesar de ter salvado esse garoto, parece que seu foco era mais o monstro do que a vida de Dororo, pois ele mesmo não podia enxergá-lo como uma pessoa. Nem a ele, nem ao monstro. Pois tudo eram como manchas, cada uma com sua cor. E pelo que parece, a cor vermelha pertence às criaturas que vivem da matança e do sangue alheio, o que impele o jovem apático e sem reações à perseguir e destruir a fonte de ameaça.
A Vida de Hyakkimaru
O bebê privado de um corpo normal e que ainda assim conseguiu sobreviver para ser um guerreiro formidável; sem olfato, sem audição, sem visão, com próteses no lugar de membros, apenas um “olho da alma” que o permite ver a cor do espírito daqueles ao seu redor. Trata-se de um personagem quase sem margem alguma para comunicar-se por si próprio para o telespectador.
Nessa história, Dororo não serve apenas como um companheiro de viagem, mas também como uma extensão de quem está assistindo o anime e está tentando decifrar os pormenores da vida desse guerreiro, quais suas origens e qual é o seu destino.
Em último caso, Dororo é uma testemunha da vida de Hyakkimaru, tanto quanto somos todos nós que assistimos a jornada do guerreiro sem sentidos e da alma branca e pura que o segue. Curiosidades a serem saciadas aqui não faltam.
E aqui podemos ser sinceros: estamos no melhor momento para sermos apresentados a mais um trabalho do pai dos mangás com essa produção de ótima qualidade.