Dos shows que rolaram em 2023 e 2024, até agora, os amantes de música do Suco de Mangá cobriram muita coisa que já fazia parte do nosso repertório. Por exemplo, a grande maioria dos shows do Summer Breeze Brasil foram de algumas de nossas bandas favoritas, como o absurdo show do Epica ou a marretada do Carcass.
Alguns shows, como o do Swallow the Sun em 2023, marcaram a nossa adolescência, como podem ler nas nossas matérias. Porém, o que acontece quando descobrimos coisas novas?
Dessa vez fui conferir duas bandas que descobri, pois anunciaram um show aqui no interior. Assim, fui muito positivamente surpreendido com a qualidade dos trabalhos!
O que vocês acham destas premissas?
Primeiramente, uma banda composta inteiramente por mulheres vestidas de freiras, que escondem suas identidades no maior estilo Ghost. Além disso, fazem um heavy metal recheado de riffs deliciosos com letras extremamente salientes?
Logo depois disso, uma banda fazendo um power metal fantástico bem próximo do thrash, com elementos de folk e cantando sobre os anãos de J.R.R. Tolkien?
Pois estas foram as boas do dia 18 de julho no Mirage Eventos em Limeira.
Então, conheçam o Dogma e o Wind Rose, ambas bandas que eu não conhecia até ver o anúncio do show mês passado!
Dogma
Dogma é uma banda misteriosa que, assim como o Ghost no início da carreira, quase não tem informações disponíveis na internet sobre sua nacionalidade, a identidade das garotas, ou nada disso.
Mesmo assim, há muitos rumores sobre as possíveis integrantes do Dogma, mas nada confirmado de fato. Isso adiciona muito à mística da banda, que conta com cinco mulheres identificadas apenas por pseudônimos que trazem uma estética de deturpação sexual da religião com seus trajes de freiras sensuais.
Inclusive, você poderia dar uma olhada no visual apresentado nos maravilhosos clipes de “Father I Have Sinned” ou “My First Peak” e achar que elas seriam alguma banda de black metal pesadíssima. Porém, Dogma vem com uma pegada de heavy metal oitentista, completo com tecladinhos grudentos, e letras quentes e gráficas sobre sexo, masturbação, “tesouras” e pecados.
O show
Foi uma pena que marcaram esse show em plena quinta-feira para o pessoal do interior paulista, dificultando um pouco o acesso do pessoal que trabalha. Afinal, já era evidente na montagem do palco do Mirage que a estética do álbum homônimo, lançado em novembro de 2023, e dos clipes estaria presente no show.
Como a banda só possui um disco, este foi executado na íntegra e na ordem. Então, vou dizer que daqui a alguns anos este será lembrado como um setlist privilegiadíssimo!
Claro que houveram algumas ressalvas. Por exemplo, o uso de playback para as partes do teclado e de órgão. Porém, de maneira geral, a banda demonstrou um primor técnico incrível.
Setlist
Assim como no álbum, iniciaram com “Forbidden Zone” e “Feel the Zeal”, ambas músicas de pegada bem oitentista, com destaque especial para a performance vocal de Lilith.
Então, quando chegaram na excelente tríade de “My First Peak”, “Made Her Mine” e “Carnal Liberation”, já haviam ganhado todo o público que ainda não as conhecia, com seus riffs claramente inspirados na New Wave of British Heavy Metal e caras e bocas por baixo da maquiagem pesada.
Um pequeno interlúdio para um solo de bateria demonstrando toda a habilidade da baterista Abrahel interrompeu a sequência. Então, continuou com “Free Yourself”, “Bare to the Bones” e “Make Us Proud”, esta contando com a participação de outro vocalista misterioso entrando como um padre no palco.
Aposto que o público não estava preparado para a sequência final do show. Ela começou dando um descanso para Lilith enquanto o resto da banda demonstrava todo seu repertório de influências com um pequeno medley.
Ele incluiu Pantera, Metallica, Iron Maiden, Megadeth e até mesmo o metalcore moderno do Lamb of God. E isso foi antes de tocarem a parte final do álbum, que conta com minha música favorita, “Father I Have Sinned”, uma performance espetacular por todas as meninas.
Eu tive que imediatamente ir buscar uma camiseta da banda antes de curtir o resto do evento, de tanto que adorei o show.
Wind Rose
Rapidamente, o palco das senhoritas foi desmontado para a introdução do Wind Rose, que começou sem muito atraso.
O pessoal do Suco de Mangá sabe muito bem que eu não sou muito chegado no estilo power metal em geral. Porém, os italianos do Wind Rose me surpreenderam imediatamente com seu carisma ao abrirem com a potente “Army of Stone”, o vocalista Francesco Cavalieri todo sorrisos para o público do Mirage.
O figurino dos meninos, claro, era super medieval fantástico, baseado nos anãos clássicos da literatura de J.R.R. Tolkien. Assim, suas letras altamente grudentas cantadas por todo o pessoal continuaram noite adentro enquanto as animadas “Drunken Dwarves” e “Mine Mine Mine!” faziam todo mundo pular com um estilo bem próximo do thrash metal e vocais bem mais graves do que o costumeiro do gênero.
Imersão do público
Conforme o setlist foi ficando mais sério ao chegar na metade do show, Cavalieri fazia questão de introduzir cada música com uma pequena historinha. Com isso, pudemos ver toda a proficiência técnica do power metal do grupo, com especial destaque ao baterista Federico Gatti.
Ele marretou aquele bumbo duplo com uma precisão e velocidade incríveis nas altamente cantáveis “The King Under the Mountain” e “Fellows of the Hammer”.
Mesmo assim, isso não chegou perto do ápice do show, e quem conhece a história de O Hobbit sabe do que estou falando. “The Battle of the Five Armies” é um incrível épico de sete minutos sobre a batalha do final deste livro.
Inclusive, ela dá trabalho a todos os membros da banda, com o guitarrista Claudio Falconcini e o baixista Cristiano Bertocchi cumprindo todos os vocais secundários. No entanto, Cavalieri não ficou para trás, exibindo toda a potência de sua voz e seu treinamento de tenor clássico, praticamente encarnando um Luciano Pavarotti do metal!
Após este momento épico, a banda fingiu finalizar o setlist com “The Art of War”, mas não enganou ninguém. É óbvio que não poderiam ir embora sem tocar sua música mais famosa, uma regravação de um meme chamado “Diggy Diggy Hole”, que fez o público do Mirage explodir em festa.
Além disso, a parte mais inusitada veio depois da execução normal da música. Wind Rose largou os instrumentos e veio dançar no meio do palco enquanto a versão “Dance Remix” da música tocava. Todos os meninos esbanjavam simpatia e amor pelos brasileiros, que ocupam a posição de segundo país maior ouvinte do Wind Rose no mundo.
Bis
Outra surpresa aconteceu no final, após a execução da bela “I Am the Mountain”, uma música com uma letra surpreendentemente edificante sobre superação.
A banda deveria finalizar o setlist com esta música, mas o público do Mirage está antenadíssimo e pedia “Rock and Stone”, o mais recente single da banda, em uníssono. Sendo assim, algo que não me lembro de ter acontecido em nenhum outro show recente rolou. Wind Rose voltou ao palco e executou “Rock and Stone” conforme os pedidos da galera!
Heavy metal ainda vive
No caminho pra casa, enquanto “Diggy Diggy Hole” rolava no carro, pensei comigo: o Dogma e o Wind Rose foram duas bandas mais recentes que demonstram, sem sombra de dúvidas, que quem diz que o heavy metal está morto não sabe do que está falando.
Espero que o pessoal do Mirage Eventos não se desencoraje por não ter enchido a casa numa quinta-feira, porque o pessoal do interior que se deslocou de suas cidades pra curtir esse som é muito grato e estou certo de que continuarão comparecendo!