Desconhecidos, filme dirigido por JT Mollner, distorce o suspense e fez algo que há tempos não sentia: fiquei apreensivo e curioso pela progressão do enredo.
Assisti ao filme e você confere agora o que achei deste curioso e intenso exercício de distorção de gênero, feito por Mollner.
CUIDADO!! ESSE TEXTO CONTÉM SPOILERS!!
Desconhecidos, ou como prefiro, Strange Darling
O diretor, também roteirista do longa, entrega a resposta do enredo em seu título. Entretanto, não em português, mas em sua língua-mãe: Strange Darling, algo como Querida Estranha em tradução direta.
Personagens distorcem o suspense
Na maioria dos filmes de suspense, o vilão normalmente é representado de forma direta. Visual assustador, algum passado que o leva a cometer atrocidades e, na maioria dos casos, um homem.
Desconhecidos carrega todas essas características em sua introdução – spoilers adiante – onde um homem, interpretado por Kyle Gallner, atira e persegue uma mulher, interpretada por Willa Fitzgerald. Essa dinâmica de gato e rato se sustenta por um período do filme e torcemos pela “donzela indefesa”.
Porém, com o passar do filme, um ponto de interrogação surge: “pera aí, tá certo isso?“
Desconhecidos e uma estrutura “estranha”
O filme faz um pingue pongue entre diferentes períodos do dia. Começa no capítulo 3, vai para o 5, volta para 1… você entendeu. No entanto, ao invés de causar estranheza, isso intensifica a sensação de cair numa interminável toca do coelho que o filme quer passar.
Isso acontece pois, a cada capítulo, entende-se que a “donzela indefesa”, pode não ser tão indefesa assim. Em determinado momento ela mata alguém que estava tentando ajudá-la. Pessoa que, pela estrutura narrativa, pensava-se que tinha sido morta pelo perseguidor.
É neste momento que o filme dá um cavalo de pau e faz você questionar as motivações dos personagens. Além disso, graças a essa brincadeira com a linha do tempo, o filme aponta o dedo no rosto e diz: não seja tão precipitado em seu julgamento.
Descobre-se que garota é uma serial killer, chamada de A Mulher Elétrica, e o homem quase foi mais uma vítima, drogado por ela em um dos flashbacks/capítulos. Entretanto, o que ela não esperava, é que ele fosse um policial e isso dá seguimento a todos os acontecimentos do filme.
Fotografia dá pistas
Conforme a narrativa progride, o filme espalha migalhas de pão — um prêmio aos atentos. Os enquadramentos, o uso de cores quentes e frias, a dessaturação utilizada para nos enganar.
Um belo trabalho de Giovanni Ribsi, diretor de fotografia de Desconhecidos.
Desconhecidos acelera em seu fim
Por mais que o filme tenha muitas qualidades, o fim deu a sensação de que parecia que o orçamento tinha estourado e precisavam encerrar logo. A construção, o suspense e twist encontra seu ápice faltando pouco tempo para o filme acabar e a partir daí, dois passeios de carro, literalmente, encerram a narrativa.
Ficou estranho e, para mim, foi um final amargo. Não tira os créditos do filme e acho que vale a pena ser assitido, mas foi estranho.
Veredicto
Desconhecidos acerta ao distorcer o gênero e leva os espectadores a uma viagem louca pela narrativa, tentando entender o que está acontecendo. Pode não ser um filme que vai mudar a sua vida, mas a tentativa de fazer algo diferente faz com que valha a pena o seu tempo.