Dançando no Silêncio é um intenso filme dirigido por Mounia Meddour e protagonizado pela atriz Lyna Khoudri. A obra envolve temas fortes como trauma, violência e cura coletiva, em que a expressão corporal é tão importante quanto — se não mais — que a facial. Acompanhe agora o review do Suco de Mangá.
Dançando no Silêncio
Houria, protagonista do filme, é uma camareira que sonha ser bailarina, mas ao cair da noite aposta em lutas ilegais e sua causa é nobre: comprar um carro para sua mãe. Essa escolha da personagem torna fácil empatizar com a protagonista e a performance de Lyna Khoudri vende ainda mais o sonho.
Entretanto, durante uma dessas noites de apostas, Houria é perseguida e agredida por um ex-terrorista anistiado pelo Estado. Este fato é ligação direta à Carta para a Paz e Reconciliação Nacional, proposta pela Argélia para encerrar a Guerra Civil que, no filme, ceifou o pai da protagonista.
A agressão a marca física e psicologicamente, fazendo com que ela perca a fala e seja incapaz de fazer o que mais ama: dançar. O episódio faz com que ela comece fisioterapia, onde conhece um grupo de mulheres com seus próprios traumas, que ajudam umas as outras a seguir em frente, resistindo.
O grupo de Houria
Como qualquer trauma, superá-lo é difícil. Mesmo com a ajuda de sua melhor amiga, Sonia (Amira Hilda Douaouda) e sua mãe Sabrina (Rachida Brakni). É importante mencioná-las, pois o filme retrata constantemente a dificuldade de ascensão social e profissional feminina na Argélia. O trauma é constante na vida das mulheres do país.
Muitas vezes, é preciso ajuda externa para superar traumas e ressiginifcar antigos sonhos. Houria encontra isso em seu novo grupo. Cada uma das histórias apresentadas nesse novo contexto serve como ponto de reflexão para a protagonista e, a partir disso, encontrar novas forças.
Durante um passeio — belíssima sequência em que o corpo fala mais alto que qualquer voz poderia — o grupo pede para Houria ensiná-las a dançar e apresentar a coreografia para o mundo. Assim, a protagonista começa seu processo de recuperação.
É uma delicada forma de ressignificar o sonho da protagonista e reforçar a força e luta das mulheres em um contexto que as oprimem.
Desfecho de Dançando no Silêncio
Houria passa então a ser professora e enquanto ajuda outras a superarem seus traumas e se expressarem, também é ajudada. No entanto, outra notícia abala o seu mundo: sua melhor amiga, Sonia, morre ao tentar atravessar o oceano e fugir dessa realidade turva.
Por mais triste que seja, esse acontecimento é o que motiva Houria a terminar a apresentação. A culminação dessa montanha russa de emoções é uma belíssima cena onde o silêncio toma conta, cortado apenas pelo som de ondas, roupas e movimentos corporais.
É curioso que essa cena de encerramento se passa no mesmo lugar que a inicial, entretanto agora Houria não está mais sozinha.
Veredito
Dançando no Silêncio fala mais pelo corpo do que por voz. É uma narrativa crua, que incomoda pelos machucados psicológicos das personagens, mas torna o filme memorável. Emocionate, forte, duro e ao mesmo tempo carrega raios de esperança, como o Sol, importante para a personagem.