A Bloober Team consolidou sua trajetória ascendente na indústria de games com o lançamento de Cronos: The New Dawn, um survival horror que finalmente materializa todo o potencial criativo do estúdio responsável pelo memorável remake de Silent Hill 2.
Após anos construindo atmosferas arrebatadoras em títulos como The Medium, o estúdio polonês agora domina não apenas a imersão psicológica, mas também o combate eletrizante que faltava em suas obras anteriores.
Uma Atmosfera Que Sufoca e Prende
Desde os primeiros minutos, Cronos estabelece uma atmosfera sufocante de isolamento e pavor que merece estar entre os melhores do gênero. O cenário futurista transcorre em Cracóvia, Polônia, nos anos 1980, visualmente impressionante onde a arquitetura brutalista soviética está completamente estrangulada por uma matéria orgânica.
A construção dessa imersão vai além dos visuais. O design de áudio é absolutamente sensacional e bem equalizado, criando uma experiência sonora que justifica jogar com fones de ouvido – o que não é meu caso, pois morro de medo. A trilha sonora utiliza sintetizadores retrô que remetem aos anos 80, evocando a estética de John Carpenter e Stranger Things. Essa qualidade sonora não é um detalhe menor—é fundamental para manter a tensão do início ao fim.
Aqueles familiarizados com The Medium, obra anterior da Bloober Team, reconhecerão essa expertise em construir mundos que parecem verdadeiramente mortos e desolados. Mas em Cronos, essa atmosfera atinge novos patamares, transformando o isolamento em uma arma psicológica contra o jogador.

O Combate que a Bloober Team Finalmente Dominou
Por anos, críticos – nem tanto o meu caso – apontaram que a Bloober Team tinha dificuldade em criar sistemas de combate engajantes. The Medium e Layers of Fear eram elogiados por sua atmosfera, mas deixavam a desejar no confronto direto. Cronos: The New Dawn resolve esse problema de forma brilhante.
O combate aqui é tenso difícil do início ao fim, representando uma excelente ação/survival horror. A principal inovação encontra-se no sistema de fusão dos Órfãos, inimigos que absorvem cadáveres para se tornarem criaturas muito mais fortes e resistentes. Essa mecânica força decisões estratégicas rápidas e, consequentemente, aumenta exponencialmente a adrenalina. O jogador não pode simplesmente derrotar um inimigo—precisa queimar os corpos ou impedir fusões, adicionando urgência genuína. Pensa numa pessoa triste? Prepare-se para morrer, voltar e rejogar a mesma cena várias vezes.
A economia de recursos é apertada e bem calibrada, exatamente como deve ser em um bom survival horror. A munição para o lança-chamas, essencial para evitar fusões, é tão escassa que muitas vezes o jogador fica preso entre abandonar uma estratégia ou correr riscos imensos – ou correr, literalmente. Os upgrades de armas e armadura, como aumentar a estabilidade de mira ou velocidade de carregamento, são bem-vindos e permitem melhorias significativas sem desbalancear a experiência. Aqui nos upgrades, é algo bem parecido com o que encontramos em Dead Space, por exemplo.

Narrativa Fragmentada e Ambientada em Contexto Político Único
A história de Cronos aproveita magistralmente o contexto da Polônia dos anos 1980. A protagonista, conhecida como A Viajante, é uma agente do Coletivo enviada para descobrir a origem de “A Mudança” (a infecção) e extrair a essência, ou consciência, de alvos específicos do passado.
A narrativa se torna progressivamente mais interessante conforme o jogador avança, revelando camadas complexas de um cenário distópico. A mecânica de viagem no tempo é essencial para essa trama, permitindo que a Viajante interaja com fendas temporais para voltar à década de 1980 e coletar informações cruciais sobre os eventos que moldaram o mundo. Mas não pense que vá entender tudo de primeira, pois sua forma fragmentada de contar os eventos históricos são confusos. Precisei ver alguns vídeos sobre a lore do jogo para entender mais.
O design de níveis é intrincado, criando labirintos semiabertos repletos de atalhos e segredos. Sem a conveniência de um mapa, o jogador é forçado a memorizar o espaço, tornando a exploração recompensadora e significativa. Cada canto descoberto pode revelar recursos vitais ou histórias que aprofundam a experiência narrativa.

Mecânicas que Quebram a Tensão
Entre os momentos de horror intenso, o jogo oferece mecânicas de respiro bem equilibradas. Puzzles envolvendo reversão de tempo em objetos e as botas gravitacionais funcionam como pausas na tensão constante, permitindo ao jogador respirar sem destruir completamente a atmosfera estabelecida.
Um detalhe charmoso e funcional são os gatos colecionáveis espalhados pelo jogo. Esses colecionáveis são recompensadores de encontrar e adicionam um toque interessante à personalidade da Viajante, humanizando-a em momentos cruciais. Gatinho, gatinho, roinc roinc.
Desafios que Frustram Tanto Quanto Envolvem
Apesar dos pontos fortes, Cronos não é perfeito. O inventário excessivamente limitado—começando com apenas seis espaços—cria frustrações desnecessárias. Gerenciar recursos se torna punitivo, especialmente quando o jogo força decisões entre descartar itens importantes ou fazer backtracking ódio disso repetitivo.
A Viajante, embora conceitualmente interessante, é retratada de forma robótica e genérica, dificultando a conexão emocional com a narrativa. Sua entrega metálica mantém distância entre o jogador e os eventos emocionantes que se desenrolam. Além disso, o ato final da história perde foco, deixando de concretizar o potencial estabelecido pela premissa inicial.

Problemas técnicos no lançamento, incluindo quedas na taxa de quadros no PC e PS5 Pro, também prejudicaram a experiência inicial, embora a Bloober Team seja esperada a resolver esses problemas com patches. No meu caso, com um i5 10400f e munido de uma RTX 4060, consegui uma faixa de 60 a 80 quadros sem ray tracing. Mesmo com o gerador de quadros, o jogo pesa nos 40 quadros no modo de traçado de raios, o que me fez desligar a opção.
Uma Evolução Merecida
Cronos: The New Dawn representa uma fase fantástica na trajetória da Bloober Team. Para aqueles que apreciaram The Medium, este título entrega ainda mais: mantém a construção atmosférica que define o estúdio, mas adiciona o combate tenso que faltava. O resultado é um survival horror que finalmente posiciona a Bloober Team entre os grandes criadores do gênero.
A experiência em suas 15 horas não é perfeita, e certas decisões de design deixam espaço para crítica. Mas quando tudo funciona em conjunto—a atmosfera opressiva, o áudio envolvente, o combate estratégico e a exploração recompensadora—Cronos oferece exatamente o tipo de survival horror aterrorizante que poucos desenvolvedoras conseguem entregar atualmente.
Para fãs do gênero, Cronos: The New Dawn é uma experiência imprescindível que merece sua chance.



