LE SSERAFIM, assim como a maioria dos grupos da HYBE, tem uma forte tendência a se distanciar de algumas marcas bem definidas de k-pop. Seja buscando trazer algo novo como o NewJeans fez, seja adotando estruturas e sonoridades que falem mais com um público global.
O problema disso, além de enfraquecer os símbolos do gênero, é a forma como é feito. Aqui chegamos a uma questão muito particular: que LE SSERAFIM parece sempre desesperado para cobrir um pouco de tudo. Além disso, suas inúmeras referências musicais não passam de tentativas extremamente superficiais em busca de algo novo que, diferentemente do NewJeans, elas nunca conseguem estabelecer.
LE SSERAFIM e a sua dificuldade de interpretar o k-pop
Precisamos entender que o k-pop respira o que o pop ocidental faz. É uma relação extremamente profunda, pois mesmo que haja essa influência, ela nunca é feita de forma 100% devocional. Ou seja, o brilhantismo está em pegar o que já existe e transformar em algo à sua maneira.
Muitos grupos fazem isso hoje em dia, sem recorrer a maneirismos suficientemente elaborados, mas pouco atraentes. “CRAZY” é o segundo, ou terceiro, exemplo desse hábito desajeitado do LE SSERAFIM em seguir caminhos não apenas replicáveis, mas também extremamente previsíveis.
O esvaziamento conceitual
Se o grupo antes explorou o reggaeton (“Antifragile”), o jersey club (“Eve, Psyche & The Bluebeard’s wife”) e até o afrobeats (“Smart”) só porque esses gêneros estavam em alta, agora elas se convertem de vez à club music. Vão em direção a sons que não só se relacionam com a tendência “BRAT”, o impressionante álbum de pop eletrônico de Charli XCX, mas também arriscam — de forma reduzida — ideias mais virais, como os elementos do phonk na faixa-título.
Nem preciso dizer que isso soa profundamente vazio. O phonk nunca chegaria ao k-pop dessa forma, especialmente pelo mesmo motivo que o funk brasileiro, apesar de ser uma tendência mundial e fácil, também não chegou completamente. Note que se antes o LE SSERAFIM se apoiava em tendências, hoje, só tentam forçá-las.
Conclusão
Piora quando olhamos para as referências à cultura de ballroom no MV de “CRAZY”, algo que não é nenhuma novidade no pop sul-coreano. CHUNG HA, por exemplo, já fez isso antes, mas aqui, com LE SSERAFIM pulando de galho em galho nos algoritmos do TikTok, a impressão que dá é que não existe apelo em tudo que elas fazem.
Não basta gesticular vogue ao lado de dançarinos que de fato fazem parte desse contexto, acenando para o som e aspectos culturais de raízes negras, e ficar por aí. O quão vazio um grupo pode ser a ponto de fazer isso?
O mais engraçado, para dizer o mínimo, é que os fãs vão abraçar e amar tudo isso, como deveriam, até porque o resultado bruto, o som que viaja do aplicativo de streaming para os nossos ouvidos, não vem acompanhado de toda essa questão de tendências, referências ou superficialidade temática que já são exemplos banais do modus operandi do LE SSERAFIM.