Em plena quarta-feira (12), aconteceu o Popload Festival 2022. De casa nova — agora no Centro Esportivo Tietê — a oitava edição do festival contou com grandes nomes em uma line-up que contemplou desde os indies traquejados, até o público mais moderno.
Organização e estrutura
Cheguei ao local do evento quase uma hora depois da abertura dos portões e não precisei encarar fila. Para quem passava pelas redondezas do CE Tietê, foi possível enxergar com clareza as estruturas do palco e outras atrações do Popload.
A entrada estava bem sinalizada e o processo de validação do ingresso e conferência de documentação foi muito rápido e simples. Já dentro do festival, encontrei um lugar agradável, arborizado e muito organizado.
Quem gosta de produzir conteúdo para as redes sociais teve a oportunidade de ser feliz ao visitar, por exemplo, o estande da patrocinadora Samsung, que oferecia vários ambientes bacanas para fotos. Os lindos e instagramáveis cartazes da edição 2022 colados por todo o entorno também serviram de fundo para muitos clicks.
Outra coisa legal foi que, além das redes e bancos espalhados pelo local, foram disponibilizadas algumas mesas para que o pessoal pudesse sentar e degustar várias das opções de comes e bebes vendidas no festival.
Para adquirir qualquer coisa no evento, o cliente precisava fazer o cartão de consumação, que podia ser adquirido e recarregado em um dos pontos de caixa disponíveis. Por esse motivo, enquanto a line-up foi um agrado ao público mais velho, o tamanho das filas para esses serviços acabou sendo um pouco desanimador.
Limpos, cheirosos, com direito à descarga funcional e espelhos para dar aquela conferida no look, os banheiros foram uma surpresa boa. O único ponto negativo foi a pequena quantidade desses espaços, fazendo com que a qualidade do serviço piorasse de maneira significativa ao longo do dia, sem contar as grandes filas que também se formaram ali.
Em resumo, é possível dizer que tudo parece ter sido pensado com muito carinho e que a nova localização do festival foi uma escolha certeira. Os fãs do Paramore que estavam tensos em relação a isso podem respirar aliviados, pois terão uma ótima experiência em 2023, quando a banda marca seu retorno ao Brasil pela primeira vez em nove anos.
Espaço Heineken
Contando com artistas ainda pequenos em notoriedade, mas grandiosos em talento, o palco da patrocinadora Heineken foi um dos destaques do dia. Como minha ambição era ficar na grade da pista para acompanhar a maior parte dos shows de pertinho, não tive a oportunidade de visitá-lo muitas vezes. Entretanto, durante uma das minhas breves passagens por lá, tive o prazer de prestigiar a revigorante apresentação de Tum, duo formado pelo casal Chuck Hipolitho e Lovefoxxx (Luísa Matsushita). Escutando conversas paralelas durante um show e outro, pude perceber que Number Teddie também impressionou muita gente!
Um fato interessante é que a estrutura do palco, assim como no Rock in Rio, contou com um sistema de abastecimento por energia verde, colaborando para um evento mais sustentável.
Dando início aos trabalhos
O dia começou com uma forte apresentação de Jup do Bairro, que reuniu uma plateia pequena, mas muito engajada.
O show, que tinha tudo para terminar de maneira linda, foi encerrado de forma abrupta ao cortarem o som do microfone da cantora durante a última música. Jup demorou um pouco para perceber que o público não conseguia ouvi-la, mas deixou o palco assim que se deu conta do ocorrido. Através dos stories em sua conta oficial no Instagram, ela registrou sua indignação e criticou a postura da Time For Fun, organizadora do evento.
A situação constrangedora causou grande comoção nas redes sociais, fazendo com que vários internautas cobrassem um pronunciamento da organização e produção do evento que, até o momento, ainda não foi divulgado. A assessoria da artista afirmou que ela deve se posicionar nos próximos dias.
Depois de servir essa torta de climão, a produção montou o palco para a Perotá Chingó, que iniciou no horário previsto. Com músicas calmas e estilos diversos de melodia, a banda entregou um show de indie folk que me deixou encantada. Eu não conhecia o grupo, mas gostei tanto que salvei algumas das músicas em minha playlist logo após a apresentação.
O rock está vivíssimo e Fresno + Pitty podem provar
Para a alegria de todos os emos desse país, a banda entrou na line-up alguns dias antes do evento para substituir Years & Years. Segundo o vocalista Lucas Silveira, ter a oportunidade de tocar no Popload Festival era um de seus grandes sonhos, então era de se esperar que Fresno demonstrasse uma super empolgação ao tocar no aniversário de 15 anos da marca Popload.
Trazendo Pitty como convidada especial, o grupo animou e tocou músicas de seu último álbum, sem deixar de entregar muita nostalgia com as canções antigas “Milonga” e “Manifesto”. Uma das mais bonitas de assistir foi “Cada Acidente”, cantada em parceria com Lio, do trio Tuyo, que subiu aos palcos depois de um convite surpresa de Silveira.
Por fim, Pitty chegou para cantar as últimas três músicas da setlist ao lado da banda porto-alegrense. O público se despediu da atração aos berros quando “Máscara” começou a tocar, fazendo todo mundo tirar o pé do chão e celebrar o rock nacional.
Outro fator marcante foi que, durante “FUDEU!”, faixa do álbum Vou Ter Que Me Virar, o telão esteve repleto de mensagens que pediam consciência política, incentivando vários gritos vindos da plateia em manifestação contra o atual governo brasileiro.
Indie pra quem é de indie, eletrônica pra quem é de eletrônica
Para a alegria dos jovens alternativos, Cat Power retornou aos palcos do Popload oito anos após sua conturbada última apresentação no festival. Com um bom repertório autoral e uma setlist repleta de covers, a cantora e compositora estadunidense cativou e emocionou muita gente. Eu mesma sou fã há muitos anos e não fugi do chororô ao ter a oportunidade de ver Chan ao vivo. Em alguns momentos, fui até confortada por sorrisos simpáticos vindos da cantora, rendendo muitos vídeos bons para guardar de recordação com carinho.
O último show antes da entrada dos tão aguardados headliners foi do australiano Chet Faker. A estrutura do palco foi simplória, mas a performance foi incrível, aquecendo a galera depois de uma chuvinha que pegou todo mundo desprevenido. Encontrei muitas pessoas que compareceram exclusivamente para ver Chet Faker e saíram de lá extasiadas. Até mesmo os mais velhos, que estavam ali só para prestigiar Jack e Pixies, se animaram. Um dos pontos altos foi “No Diggity”, do Blackstreet, que fez com que todos cantassem e dançassem.
Jack White: o maioral
Mr. White é um acontecimento e ninguém pode negar. O artista estadunidense, conhecido por ter feito parte de bandas como The White Stripes e The Raconteurs, retornou ao Brasil em carreira solo e entregou a melhor apresentação da noite.
As expectativas para esse show estavam altíssimas e, felizmente, todas elas foram superadas. Com uma banda impecável e iluminação em tons azuis de arrancar o fôlego, Jack White mostrou toda a sua potência e fez valer a pena as horas aguardando por esse momento.
A setlist selecionada foi relativamente curta e, apesar de baseada majoritariamente em seus últimos trabalhos, Fear of the Dawn e Entering Heaven Alive, Jack também apresentou hits de sua grandiosa carreira como “Fell in Love With a Girl”, “Steady, as She Goes”, “Icky Thump”.
Jack interagiu com sua banda e com seus fãs várias vezes, esbanjando energia ao pular e correr pelo palco.
“Seven Nation Army”, a mais famosa entre as antigas, foi a responsável por encerrar a apresentação com chave de ouro e levar o público ao delírio. O coro para cantar a icônica canção deixou o artista emocionado ao final do show.
Em celebração ao público brasileiro, o músico se despediu do Popload dizendo: “You’ve been wonderful, and I’ve been Jack White” (“vocês foram maravilhosos, e eu fui o Jack White”). A multidão boquiaberta pela experiência eletrizante presenciou um show histórico que ficará marcado como um dos melhores de todas as edições do evento.
Foi possível notar a mobilização de fãs de várias partes do Brasil, que se deslocaram só para ter a oportunidade de assistir seu mais novo projeto solo ao vivo. Conheci uma pessoa que veio diretamente do Ceará para a grande São Paulo, encarando uma viagem cansativa e breves cochilos no aeroporto para aguentar o tranco de ficar em pé o dia todo esperando para ver seu artista favorito. Fiquei impressionada com tamanha comoção e muito feliz por ter presenciado a realização de um dos maiores sonhos da vida de alguém. Ela também se sensibilizou quando, em nossa breve conversa no intervalo entre os últimos shows da noite, eu disse que Pixies era uma das minhas bandas favoritas. Gentilmente, ela me ofereceu seu lugar na grade e, nesse momento, começou o que seria a realização de um dos meus maiores sonhos.
Fun fact: Jack White foi o único artista que parece não ter permitido a circulação de fotógrafos na frente do palco durante seu show. Minha única lembrança é de um que parecia fazer parte da equipe do cantor e fez alguns registros rápidos, mas logo voltou para o backstage.
Pixies, você sempre será famosa!
A experiência de ter estado na presença do quarteto fantástico do rock alternativo é quase indescritível.
Apesar de apresentar um show com duração tão curta que chega a ser cruel, Pixies conseguiu entregar um espetáculo de tirar o fôlego.
Como esperado, a banda tocou sem parar durante uma hora e 15 minutos. Para os fãs que estavam esperando por um dos característicos shows longos, a setlist de vinte e poucas músicas pode ter sido considerada enxuta.
Mesmo sabendo que a atração seria mais curta do que estamos acostumados a ver do grupo americano, não pude evitar lamentar a ausência de várias canções super aguardadas por mim e pelo restante do público. A falta que “Monkey Gone to Heaven” foi a que mais gerou conversa triste durante a volta para casa e eu espero ter a chance de vê-la ao vivo um dia.
Com “Here Comes Your Man”, “Wave of Mutilation”, “Ana”, “Hey” e “Where Is My Mind?”, presentes na trilha sonora da vida muita gente, Pixies levantou o astral e fez a audiência pular e cantar apaixonadamente.
Doggerel mostra que ainda é possível fazer rock alternativo de qualidade
“There’s a Moon On”, “Vault of Heaven” e “Who’s More Sorry Now?” foram as músicas responsáveis por fazer a propaganda do novo álbum do Pixies, lançado no final do último mês e que remete aos gloriosos tempos do passado.
Com uma tracklist que visita os extremos que marcam a trajetória do grupo, este trabalho mais recente ainda é pouco conhecido e, por esse motivo, foi recebido de forma mais morna pelo público.
Fim da aventura
O cover da canção “Winterlong”, de Neil Young, se encarregou de encerrar a noite com um ar triste de despedida.
A impressão que ficou foi a de que a banda gostaria de ter tocado mais e não queria ir embora. Infelizmente, os gritos pedindo bis não adiantaram de nada e, às 22h, o Popload 2022 dava adeus aos amantes de música.
Considerações finais
O Popload Festival 2022 terminou com saldo positivo, garantindo seu retorno digno de boas memórias e deixando um gostinho de quero mais. Entretanto, o vexame ocorrido na apresentação de Jup do Bairro, única artista preta e trans da lista de atrações, não pode passar batido e merece atenção e retratação apropriadas. Não adianta trazer diversidade aos palcos e não garantir o devido respeito e suporte aos artistas.
Pixies no Popload Rio de Janeiro
*Confira também algumas fotos que o @fotobelga fez na edição do Rio de Janeiro do POPLOAD e que tivemos o prazer de fotografar o Pixies!