Depois de 8 anos desde o anúncio das Olimpíadas de 2020 em Tóquio, sendo 1 ano de espera por conta da pandemia, o Japão finalmente deu o pontapé para as Olimpíadas de Tóquio. Apesar das controvérsias, que sempre acompanham o evento, e da situação mundial, os jogos estão oficialmente abertos para celebrar a esperança de um futuro melhor para a humanidade.
Antes mesmo da Cerimônia de Abertura das Olimpíadas começar, 6 aviões da Blue Impulse, a Esquadrilha da Fumaça da Força de Autodefesa Aérea do Japão, sobrevoaram Tóquio, na região do Estádio Olímpico, realizando várias manobras e liberando a fumaça nas cores dos Anéis Olímpicos para celebrar a data.
Assim como em 1964, que representava a reconstrução depois da Segunda Guerra Mundial, as Olimpíadas de 2021 representam novamente o sentimento do recomeço e da esperança, tanto em relação ao Terremoto de Tohoku de 2011 para o Japão, quanto o pós-pandemia para o mundo.
Um Pouco sobre o Estádio Nacional do Japão
Inaugurado em dezembro de 2019, o Kokuritsu Kyogijo é o estádio construído para as Olimpíadas de 2020 e que substituiu o antigo estádio das Olimpíadas de 1964. Com capacidade para 68 mil espectadores, o estádio foi arquitetado por Kengo Kuma e abraça a sustentabilidade com madeira certificada vindo das 47 prefeituras do país, prestando uma homenagem especial às áreas afetadas pelo Terremoto de Tohoku de 2011.
Seu telhado é de madeira, enquanto os assentos seguem o tema de floresta, com cores que representam o Komorebi, como a luz do sol sendo filtrada pelas árvores. Além disso, o estádio inclui ventiladores poderosos para amenizar o calor e 2 telas de LED de alta resolução de 32 metros de comprimento.
O projeto de Kuma foi inspirado no Pagode de Gojunoto no Templo de Horyuji, em Nara, que foi construído por volta do ano de 700 d.C., sendo o templo de madeira mais antigo do mundo e um dos mais antigos do Japão.
Uma Abertura Simples
Devido à gestão confusa que mudou constantemente e aos problemas causados pela pandemia, a Abertura das Olimpíadas de Tóquio foi bem diferente da proposta inicial, que teria muita tecnologia e referências à cultura pop. Com uma cerimônia simples dividida em 9 segmentos, o tema da festa foi o “Unidos pela Emoção” e teve 3h40 de duração. A cerimônia contou com poucos artistas na arena e com um estádio praticamente vazio, dando lugar a uma cerimônia mais intimista e tocando em pontos do passado, do presente e do futuro.
Como foi?
Logo de início, a abertura mostrou a dificuldade que foi para os atletas continuarem treinando e com as mudanças de regras para as classificações para os jogos com a boxeadora e enfermeira Arisa Tsubata, que teve seu sonho de atleta interrompido como tantos outros pelo mundo por causa da situação com o coronavírus.
Depois disso, crianças, atletas, uma socorrista e uma pessoa com deficiência carregaram a bandeira do Japão até o palco. Com rearranjo de Shiro Sagisu, compositor de músicas de Bleach, Evangelion e Macross II, o hino nacional foi interpretado pela cantora Misia (“Orphans no Namida” de Mobile Suit Gundam: Iron-Blooded Orphans e “Kimi No Soba Ni Iruyo” do live action de Fullmetal Alchemist).
O palco em seguida foi tomado por dançarinos vestidos de carpinteiros com algumas estruturas de madeira feitas de árvores devastadas que foram plantadas nas Olimpíadas de 1964. A performance foi embalada por uma canção de trabalho tradicional chamada “Kiyari Uta”, cantada pela Associação de Preservação dos Bombeiros de Edo e que surgiu na Era Edo (1603 a 1868), um período em que houveram grandes incêndios na capital, que precisou ser reconstruída várias vezes, representando assim o espírito japonês da reconstrução e superação.
A entrada das delegações foi marcada pelas músicas de vários jogos populares, como Sonic, Final Fantasy, Kingdom Hearts, entre outros. Além disso, o acordado seria cada uma entrar com o mínimo de pessoas para não haver muita aglomeração, mas pareceu que só o Brasil cumpriu com o protocolo.
Um dos pontos altos da cerimônia foram os 1824 drones que sobrevoaram o estádio formando o símbolo das Olimpíadas de Tóquio e em seguida formando a Terra ao som de Imagine sendo interpretada por cantores dos 5 continentes, com o coro de crianças da escola Suginami representando a Ásia, Angélique Kidjo da África, Alejandro Sanz da Europa, John Legend das Américas e Keith Urban da Oceania.
O grande destaque da noite foi Hiro-pon e a dupla de comédia Masa and Hitoshi, que representou os 50 pictogramas dos esportes olímpicos.
Para encerrar a abertura, o segmento “Hora de Brilhar” contou com a ex-patinadora Shizuka Arakawa e Hitori Gekidan como um em um esquete de comédia como um operador de controles nos bastidores do estádio, brincando com as luzes e desenhando no telão até chegar a uma breve performance de Kabuki com o ator Nakamura Kankuro VI e a apresentação animada da premiada pianista Hiromi Uehara.
Quando a tocha olímpica finalmente chegou ao estádio, ela passou pelas mãos de um médico e uma enfermeira para representar os profissionais de saúde, um atleta paralímpico e 6 crianças do ensino médio das províncias de Iwate, Miyagi e Fukushima que foram as regiões mais atingidas pelo Terremoto de 2011. Por último, Naomi Osaka, um dos maiores nomes do tênis feminino atual, foi a responsável pelo acendimento da pira, que se abriu para relevar um belo Monte Fuji com um sol que virou uma flor no topo, representando a esperança e vitalidade.
Discursos
Subindo em um palanque no formato de um leque, o presidente do COI Thomas Bach e a chefe do Comitê de Tóquio Hashimoto Seiko passaram uma mensagem de resiliência, pregando um mundo sem fronteiras prezando pela paz, diversidade e livre de preconceitos. Ambos abordaram o tema da pandemia e das dificuldades de realizar essa edição e agradeceram aos profissionais da saúde pelo seu trabalho. Além disso, Bach pontuou sobre a reconstrução após o Terremoto de Tohoku de 2011, a importância da solidariedade, o papel dos refugiados na sociedade e como o evento representa uma luz no fim do túnel da pandemia.
Foi, de fato, uma cerimônia sutil, com poucos recursos tecnológicos, marcada pela simplicidade e com mais recursos para televisão do que para o estádio, um desafio imposto pelas circunstâncias atuais. Por conta disso, a cerimônia ganhou um olhar mais humano, olhando para o passado, presente e futuro, pedindo por mais igualdade e respeito. Uma festa modesta que não pretendeu ultrapassar a linha do bom senso, sendo intimista, sem se desconectar da realidade.