Baby Steps é uma série de mangá de tênis, lançada desde 2007 na Weekly Shounen Magazine (de séries como Tsubasa e Fairy Tail), que foi adaptada entre 2014 e 2015 em duas temporadas animadas totalizando 50 episódios.

O mangá de Hikaru Katsuki conta a história de Maruo, um estudante que começa a jogar tênis no primeiro ano do ensino médio e, apesar do começo tardio, decide que quer se tornar um campeão no esporte.

Descrição mais honesta e direta impossível, certo? Se for possível descrever Baby Steps em duas palavras, essas são certamente as melhores. Honesto, direto, está no nome da série o que ela propõe: mostrar os “passos de bebê”, iniciais e desajeitados, de Maruo no universo do tênis, e seu desenvolvimento em um jogador respeitável. Baby Steps não tem segredos, mistérios, é o equivalente “comédia pastelão” do anime de esportes: a proposta é mostrar um jovem garoto evoluindo em um determinado esporte, aqui, o tênis. Tudo bem, mas e aí? Qual é a graça de Baby Steps, e por que a série já está com 40 volumes compilados no momento dessa postagem?

Também assim como seu título, Baby Steps pode afastar o leitor à primeira vista por uma série de más primeiras impressões – shounen de esportes longão, com um design de personagens muito simples e até infantil, uma animação medíocre, uma música de abertura que se repete por 50 longos episódios…? Escolhas confusas. Baby Steps tem diversas falhas técnicas óbvias que nos faz compreender rapidamente por que não tem o hype de um Haikyuu!!, por exemplo. Mesmo assim eu, que não sou nenhuma fã de tênis nem de séries tão convencionais, me senti presa desde o primeiro episódio. Por quê? Sucede que por trás dessas falhas reside uma série realmente muito boa para qualquer fã de anime de esportes, e indo além disso, para qualquer fã de séries sobre desenvolvimento de personagem, superação, reflexões sobre o próprio corpo e sobre como bons hábitos podem ser cultivados. É uma série verdadeiramente motivadora, mesmo que não esfregue essa mensagem em momento algum.

O contato com o esporte

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Baby Steps (Imagem Divulgação)

Maruo é a princípio um garoto como, diria, muitos fãs de anime – que não tem absolutamente nenhum contato com esporte nenhum. Maruo, na realidade, é um estudante “nota 10”, que só tira as melhores notas da classe sempre e só se importa em estudar muito para ter um bom futuro. Um dia, sua mãe, preocupada com a má influência que seus hábitos excessivos podem ter para a sua saúde – porque Maruo é realmente obsessivo com estudo! – decide que seu filho deve praticar um esporte, e é assim que Maruo entra em contato com uma espécie de ginásio ou centro de treinamento de tênis local. Como muitos jovens, Maruo não começa a praticar um esporte porque quer ser uma lenda ou sei lá o que, mas simplesmente porque sua mãe falou “vai lá e faz”. E ele vai lá. Ele meio que gosta de uma tenista, a Natsu, começa a achar que esse negócio de tênis não é tão ruim assim, e começa a praticar.

Sucede que esse ginásio é dividido em vários “graus”, sendo que os melhores atletas competem apenas com outros no seu nível. Como muitos de seus colegas no clube praticam o esporte há muito tempo, todos estão em níveis acima do seu, e Maruo se dá conta plenamente da sua falta de habilidade logo no começo da série, quando ele é humilhado por um garotinho com a metade do tamanho dele, no grau mais fácil do ginásio. Aí, ele tinha duas opções: desistir totalmente do tênis e nunca mais dar as caras lá, ou, bem, se esforçar para melhorar. E como alguém que sempre se esforça demais em tudo que faz, e tende a obter bons resultados, ele vai pelo segundo caminho.

Contando sempre com o apoio de outras figuras muito importantes, como bons treinadores, pais que o ajudam como podem, e seus velhos e novos amigos, dentre os quais a Natsu, Maruo começa a trilhar o longo e ardiloso caminho que qualquer jovem que começa a praticar um esporte tardiamente precisa percorrer para se tornar um campeão. De fato, a personalidade obsessiva de Maruo é o grande ponto-chave de todo o enredo de Baby Steps: é o que faz Maruo ainda ter alguma chance de se destacar naquele universo fortemente competitivo, e além de ser a chave do seu sucesso, é também grande parte do humor da série.

No começo, Maruo é um estudante especialmente popular por anotar tudo da aula. Tudo. Suas anotações são motivo de popularidade, e também de suas notas, sempre no primeiro lugar da sala. Sucede que ele leva esse hábito pro tênis: durante todas as pausas entre os sets, Maruo começa a tomar por hábito anotar, ou desenhar rapidamente todas as jogadas suas e do oponente e os resultados. Dessa forma, ele consegue descobrir como jogam seus oponentes, quais suas tendências, que jogadas ele faz melhor e tudo mais, mesmo durante a partida. É esse jeito “nerd” e disciplinado de Maruo que acaba revelando um jogador que, apesar do começo tardio, é talentoso. Sabendo disso, o rapaz passa a se esforçar cada vez mais. Será possível para esse rapaz superar as lendas e prodígios do tênis?

Motivação

Talvez o mais incrível de Baby Steps seja o quão motivador é o anime. O aspecto motivacional é um ponto importante de séries de esporte em geral, e o próprio nome da série já diz muito sobre ela, ao ser interpretado da forma correta: é a história de Maruo que, como um bebê que começa a andar, vai traçando passos desajeitados e progressivamente melhores. E o que realmente nos prende a Baby Steps é a mesma coisa que nos prende à história de atletas com inícios tardios e que venceram; é ver como um garoto com nenhuma habilidade para o atletismo consegue, usando fórmulas originais e criativas e com muita dedicação, conquistar um espaço entre as pessoas que começaram mais cedo. É lembrar a máxima de que nem sempre quem sai na frente chega na frente, e aprender a acreditar no seu potencial.

Apesar das lições muito importantes e episódios com competições bastante empolgantes de se assistir, com bastante raciocínio lógico e ensinamentos sobre o esporte, a apresentação de Baby Steps em si deixa bastante a desejar. As duas temporadas tem exatamente o mesmo nível de qualidade técnica, o que por um lado é bom – já que se você gostou do começo vai gostar do resto do mesmo jeito. Por outro lado, é tão parecido que até a música da abertura não muda uma única vez em 50 episódios. O nível da animação é o esperado do estúdio Pierrot (Naruto, Bleach): OK, mas muitas vezes deixa a desejar. Realmente não tem como dar muitos pontos para a apresentação de Baby Steps. Mas, se você conseguir deixar de lado a primeira impressão forte de mediocridade que a série tende a passar, vai encontrar um anime de esportes que se sustenta pela história, relativamente realista e com uma série de diferenciais.

É delicioso acompanhar o “nerd bizarro” Maruo conhecendo novas pessoas e expandindo seu mundo. É delicioso aprender com ele, não só sobre tênis, mas também sobre como é sempre possível se superar e fazer melhor do que você espera – uma lição que vale pra vida como um todo. É um anime colorido, bastante divertido, com pitadas de humor e algumas partidas que realmente deixam o espectador ansioso e cheio de expectativas. É o anime de esportes mais diferentão do mundo? Não, é até bastante convencional. Mas não deixa de ser bastante divertido, e acima de tudo, sólido. Para quem quer assistir um bom anime de esportes sobre tênis, que foca muito na parte técnica e realista do esporte em si – diferentemente de clássicos como o desafiador-à-Física Prince of Tennis, ou o dramático Ace wo Nerae! – Baby Steps é uma pedida excelente.