Levou 13 anos para que James Cameron, em sua plenitude crítica, desenvolvesse as bases do que viria ser a continuação de Avatar, lançado em 2009. Mais do que roteiro e planejamento, o tempo tomado pelo diretor se deu devido às limitações técnicas em gravar debaixo d’água. Afinal, cenas submersas sempre foram uma digressão no cinema.
Filmes assim, além de custarem mais, quase nunca conseguem atingir o efeito exato ou, pelo menos, próximo do realismo esperado. Por exemplo Aquaman, de 2018, um dos títulos que sofreu com essa questão, mesmo considerando a evolução tecnológica de quando ele havia sido lançado. Agora, Avatar: O Caminho da Água felizmente surge pronto para acabar com esse dilema. E, sem exageros, a mudança de fato acontece.
O problema está, todavia, na simplicidade geral do roteiro, que em contraste com a produção, parece exercer menos impacto.
A História
Após formarem uma família, Jake Sully (Sam Worthington) e Ney’tiri (Zoë Saldaña) acabam sendo acuados pelo retorno dos humanos à Pandora. Então, diante desta situação eles se veem obrigados a explorar outras regiões do planeta. Nessa busca por um lar, o casal e sua família se tornam membros de uma nova tribo. Partindo disso, a inconsistência do filme se define pelo fragmento narrativo que motiva os fatos.
Enquanto isso, a Terra está por um triz. Portanto, resta aos seres humanos procurar outro planeta que considere as especificidades da vida terrestre. Claro que, na circunstância de todo o universo em que a obra se passa, a escolha seria Pandora.
Então, o problema passa a ser a existência de Jake e o seu espírito rebelde que, supostamente, viria a impedir a colonização — novamente, porém com fins diferentes — da lua habitável.
Embora a história central de Avatar: O Caminho da Água seja, em partes, limitada pelo desejo de continuação, tudo aqui em relação ao roteiro parece funcionar bem na medida do possível. Entretanto, a edição acaba falhando em alguns momentos: cortes bruscos e tela preta incontáveis vezes. Mas, apesar disso, a beleza visual e toda estética relacionada à Pandora — especialmente esse novo “Reino” que, ao invés da floresta, depende da água para funcionar — são elementos recompensadores ao extremo.
Dilema do 3D
A imersão proposta no longa é um dos fatores que retocam a experimentação trazida pelo primeiro filme no final da década de 2000. Muito se temia que O Caminho da Água fosse soar menos atrativo, uma vez que o 3D, principal apoio de Cameron na época, hoje está estacionado em um espiral de desinteresse do público.
Esse é um debate caloroso, ainda mais se considerarmos que a exibição de Avatar requer salas bem equipadas e um 3D digno de sustentar todos os movimentos impressionantes oferecidos pelos efeitos visuais de ponta. Inclusive, tal elemento é a chave do sentimentalismo que guia o longa. Sim, há muitas cenas emocionantes e que são propostas apenas por CGI.
A conexão dos Na’vi com a natureza, por exemplo, é uma das coisas mais lindas e emocionantes já feitas na história do cinema. Sendo assim, Cameron, ciente disto, usa e abusa desse recurso, tornando a força dele em causar emoção realmente irreplicável.
Considerações Finais
Nos instantes de confronto, é impossível não se envolver em tudo que está acontecendo ali. Você, ou a sala inteira, começa a prezar pela violência na intenção de ver o Povo do Céu ser massacrado pelos Na’vi. Esse tipo de coisa é o que define a arte do cinema como um catalisador de sentimentos.
Então, a imersão provocada pelos efeitos e os aspectos técnicos como fotografia e direção — haja direção — conduzem o filme de maneira positiva e excitante. A expectativa de James Cameron em dar sequência a essa produção, com acréscimos de novos personagens, é cumprida com êxito. Embora haja semelhanças com a primeira obra, aqui a vontade de conhecer o “Novo” é tão grande que é extremamente difícil não se sentir maravilhado com tudo.
No fim do dia Avatar: O Caminho da Água pode não ser o mesmo fenômeno cultural que Star Wars, Harry Potter, Os Vingadores e, até mesmo, Crepúsculo. Contudo, mais do que isso, o filme é uma experiência profundamente única e irretocável, coisa que somente um bom 3D e uma boa tela podem proporcionar.
Já dizia Martin Scorsese: isso é cinema!