Assassin’s Creed Mirage vem como uma carta de amor aos primeiros jogos da longeva franquia da Ubisoft, e de fato cumpriu essa missão de forma muito satisfatória. A trama se desenvolve de maneira orgânica, mantendo o jogador cativado a cada parkour da campanha.
Com uma jogabilidade mais intuitiva e diferente dos três últimos títulos focados no RPG, em Assassin’s Creed Mirage temos uma brincadeira maior com nossa percepção, com um uso mais inteligente da Visão. Já de cara adianto que a forma como você utiliza as ferramentas do jogo vai te propiciar mais facilidade ou não na resolução das missões.
Uma Abordagem sem Elementos de RPG
Confesso que sou um jogador “moderno” da franquia, começando ali no Black Flag, passando por Origins, Odyssey e Valhalla, atraído principalmente pela mudança de escopo para o RPG.
Dentro disso, uma das maiores dúvidas dos fãs era se Assassin’s Creed Mirage manteria os elementos de RPG presentes nos títulos mais recentes. A resposta é não, o jogo não possui elementos de RPG. Embora haja uma árvore de habilidades, os pontos são obtidos ao cumprir missões e não ao subir de nível.
Os inimigos estão, em sua maioria, no mesmo nível de poder, com exceção dos mercenários que aparecem quando você está no nível máximo de procurado. Estes são os únicos adversários que não podem ser eliminados instantaneamente – aqui, você não verá números de dano aparecendo na tela. O combate tradicional está de volta, com a capacidade de atacar e bloquear os golpes inimigos. Basim, o protagonista do jogo, também executa ataques letais durante os confrontos, e para os soulsplayers, o sistema de parry tá bem implementado.
Diferente do Odyssey e Valhalla onde era comum enfrentar muitos inimigos ao mesmo tempo, em Mirage está bem diferente e pé no chão. Caso você não consiga – ou não tenha paciência – para fazer uma missão no modo stealth e seja descoberto, tente evitar combates com muitos inimigos. Caso venha 3, 4 ou mais, a melhor forma de sobreviver seja fugindo. Não tenha vergonha disso, faz parte!
Esta forma de nivelar o jogo e deixá-lo menos fantasioso, deu a Basim aquele ar de: “não sou forte o suficiente, mas consigo lidar do meu jeito”, algo próximo do que vemos na série Demolidor, sabe? Isso possibilita maior planejamento estratégico de lidar com o que temos na mão e menos combinação de armas brancas, equipamentos e números. Por sinal, não há números subindo na tela.
E o Parkour? Ele volta em grande estilo e mais difícil de encaixar do que o aplicado nos títulos RPG. Na forma clássica, devemos prestar a atenção o local exato para saltarmos ou avançarmos com as mãos e pés, normalmente indicado por uma cor branca. Não é todo local que conseguimos saltar e há uma pré-definição/equilíbrio para que você não caia de bobeira das construções.
Dica: o furto lhe dará bons itens e dinheiro. Use com perspicácia e faça a rapa por Bagdá!
História e Ambientação
A maior parte da campanha de Mirage se passa em Bagdá e seus arredores, um mapa bem menor em escada que seus predecessores. A cidade é bem construída, mas nisso sempre damos os parabéns pela equipe de pesquisa e arquitetura da Ubisoft, que mais uma vez executam com maestria – pelo menos para olhos de um leigo e não de um historiador.
Com o clima predominantemente árido, vermelho e efervescente, ainda sim é possível ter uma gama interessante de cores e culturas entre a população. Temos uma variedade interessante de roupas e design de personagens, não reparei em muitas repetições e dou o destaque para a vegetação, a melhor vista na franquia até então.
Já no micro, acompanhamos a história de Basim, seus relacionamentos e seu crescimento pessoal dentro dos Ocultos (assassinos). A trama é bem simples, linear e com reviravoltas previsíveis, pois Mirage veio a fortalecer de fato a jogabilidade. AC Odyssey, pra mim, ainda conta com a melhor contação, ambientação e enredo dos jogos da franquia que joguei.
No que diz respeito a Abstergo, Animus e metalinguagens, os fãs mais ávidos por respostas e detalhes dentro dessa área da franquia pode se decepcionar. O jeito aqui é curtir Bagdá, que ainda que simples, possui momentos emocionantes e personagens memoráveis.
Gráficos e Desempenho no PC
Assassin’s Creed Mirage apresenta gráficos e desempenho similares ao que vimos em Valhalla, porém, com um desempenho e otimização melhor. Enquanto alguns bugs podem surgir durante a campanha, já tivemos acesso a um patche inicial (no dia 2/10) que veio a corrigir bugs mais severos. No geral, esses problemas não atrapalham significativamente a jogabilidade.
Minha experiência no PC foi com uma RTX 2060 somado a um processador Intel Core i5 10400F, jogando no Alto em estáveis 60 quadros. Para configurações mais parrudas, apesar deste setup conseguir entregar, mas com certa instabilidade, aconselho uma placa de vídeo superior. Mas já adianto que o game não está pesado e talvez muito por conta do “mundo aberto” estar mais enxuto.
Destaco a qualidade de partículas, detalhes urbanos e vegetação, um show a parte e que mesmo em presets Baixo ou Médio, ainda fica um visual bem satisfatório. O deserto em Mirage é um dos mais bonitos que já vi nos games!
Para finalizar ainda na questão técnica, a trilha sonora se mantém no padrão da franquia, os efeitos sonoros estão bem colocados, mas me incomodou a dublagem – ou sua direção. Há pouca emoção em cenas chave, o que tornam pouco convincente e prejudicam a imersão na história.
Um Retorno Refinado às Origens
Assassin’s Creed Mirage é uma carta de amor aprimorada dos primeiros jogos da franquia, mas sem grandes revoluções na série. Talvez seja um teste de público da Ubi? Ela continuará neste gênero ou deve voltar para o RPG? No entanto, para os fãs que não apreciaram os elementos de RPG dos títulos anteriores, Mirage será um respiro às origens. O Batman de Bagdá!