Tripofobia, beleza de matar e um disco do mundo dos mortos. Essas são algumas das histórias de As Esculturas sem Cabeça, coletânea com 13 histórias de Junji Ito. Uma publicação da Pipoca & Nanquim, ela mistura body horror, mistério e o pior da capacidade do ser humano.
Assim, todos os contos dessa coletânea foram publicados entre 1990 e 1992 na revista Halloween, seguindo a cronologia do autor. Além disso, acompanha um marcador de página e mais quatro cards exclusivos de Junji Ito.
Sem mais delongas, vamos ao que interessa!
Fio Vermelho do Destino
A história que abre essa coletânea tem inspiração numa lenda muito romântica, o fio vermelho do destino. De acordo com ela, você nasce com um fio vermelho amarrado no mindinho, que se conecta à pessoa que é sua alma gêmea. Porém, o que acontece quando esse fio se rompe?
Bom, o primeiro capítulo de As Esculturas sem Cabeça traz essa resposta e não é nada agradável. Se prepare para ficar bem enrolado nessa trama (piada de tiozão, eu sei).
Disco Velho
Mais uma vez, Junji Ito pega coisas comuns do nosso dia a dia e transforma numa sucessão de eventos catastróficos. Em Disco Velho, duas amigas ficam viciadas em uma música muito peculiar. Porém, desejando a qualquer custo ter o disco para si, Nakayama rouba sua amiga e inicia um efeito dominó sem volta, descobrindo que um terrível mau agouro acompanha essa canção.
Conhece a piadinha “eu ouço gente morta”? Pois é, aqui essa piada não é tão engraçada assim.
O Presenteador
Essa é uma história bem peculiar e daria um bom filme de terror. Um homem muito maldoso foi hipnotizado para se tornar uma pessoa melhor e agradar a todos. A hipnose foi tão forte que mesmo após sua morte, seu filho seguia essa vontade, presenteando a todos com bonecos de madeira feitos pelo seu pai. No entanto, esses bonecos assustavam as pessoas, fazendo com que todos fugissem do presente. Um conselho: não deixe seus filhos sozinhos com eles!
Achei bem morninha, mas gostei do final. Diria que o que mais salva a história é o suspense que Junji Ito conseguiu manter em seu desenvolvimento.
Ponte
Uma vovó, que mora sozinha e afastada de todos, chama sua neta pois não consegue dormir à noite, de tanto medo. Quando anoitece, o espírito dos familiares que já morreram vêm à casa da senhora, chamando para que ela se junte a eles. Porém, somente aqueles cujo sepultamento deram errado aparecem. Assim, sua avó a fez jurar que não permitiria que ela também fosse amaldiçoada.
Gostei da história, fiquei com medo e me perguntando o que vai acontecer com a neta. Será que ela vai seguir rio abaixo ou terá o mesmo destino que seus antepassados?
O Circo Chegou
Nesse capítulo, dois amigos vão felizes e ansiosos ao circo, sendo que Yoshiyuki espera ver sua antiga paixão se apresentando. No entanto, a felicidade logo é substituída por medo quando todos os números do circo começam a dar tremendamente errado. Cuidado, pois a morte pode estar à espreita.
Essa história de As Esculturas sem Cabeça é um verdadeiro circo dos horrores, mas sem pessoas deformadas ou algo semelhante. Não sei o que faria se estivesse na plateia. E você?
Colmeia
Colmeia fala sobre garotos que resgatam colmeias de vespas e guardam para si. Porém, um dos garotos começa a competir com o outro e quer a todo custo ter mais e os melhores exemplares. Essa obsessão o leva a uma trama de mistérios que acarretam numa terrível tragédia.
Sejamos sinceros, é o conto mais fraquinho dessa coletânea. Tive até que dar uma folheada nas páginas pra dar uma refrescada na memória. Mesmo assim, o plot twist é bem bom, cruel e gore. Quem amou?
Cidade dos Mapas
Essa história peculiar nos leva à uma cidade onde os moradores só conseguem andar seguros seguindo os mapas espalhados pelas ruas. De acordo com eles, o senso de localização não funciona ali e os desaparecimentos na cidade estão cada vez mais comuns. Um casal que estava de passagem pensou ser apenas uma lenda urbana, o que provou ser um grande erro.
Junji Ito levou a sério a história de não ter senso de direção. Me identifiquei e sei que não duraria 5 minutos nessa cidade.
As Esculturas sem Cabeça
Finalmente, a história que dá nome à coletânea. Numa sala abandonada, um aluno e seu professor trabalham nas esculturas do docente. Porém, na manhã seguinte corre a notícia que o professor foi degolado na sala e o único suspeito é seu aluno. Qual será a verdade dessa história?
Sinceramente, honra o peso de ter o nome dessa publicação. Muito suspense, mistério e body horror na medida certa. Esperava que o enredo fosse pra uma direção, mas me surpreendi.
Vida Curta
Em uma escola, as garotas misteriosamente estão ficando muito bonitas, sem qualquer explicação aparente. No entanto, o que parecia uma dádiva vira um verdadeiro inferno quando mais e mais garotas sofrem desse “milagre”.
Mais uma vez, Junji Ito brinca com a busca pela beleza impecável e os padrões de beleza japoneses. Porém, se nós estivéssemos nessa história, estaríamos todos mortos.
Calafrios
Yuji, um jovem garoto, se intriga com a situação de sua vizinha. Os braços dela são repletos de furos e buracos, e ela aponta pra um ponto fixo em seu quintal. No entanto, sempre que recebe a visita do médico Yuji só consegue ouvir os gritos desesperados dela. Será impressão, ou ele já viu um corpo completamente esburacado como aquele?
Horrível! Simplesmente horrível, agoniante, tenebroso. Cuidado se você tem Tripofobia, pois foi difícil pra mim ler essa história. De todas de As Esculturas sem Cabeça, foi a que eu mais me incomodei.
Espantalho
Quando um pai perde sua filha, todos os dias ele visita seu túmulo, expulsando o noivo da falecida garota. Para isso, o homem finca um espantalho no cemitério, mas um estranho fenômeno começa a acontecer. Cada dia que passa, o boneco se parece mais e mais com sua filha.
Bem macabra, cheia de suspense e mistério. Fiquei bem tensa lendo, esperando pra ver o que ia acontecer. No fim, gostei do plot, mas acho que poderia ter sido desenvolvido melhor.
Bilhete Suicida
Por fim, Bilhete Suicida gira em torno de uma família cuja filha mais nova tirou a própria vida. Deixando para trás um bilhete cheio de ódio e rancor, a família sofre as consequências de uma alma que ainda tem assuntos a resolver aqui na terra.
Também daria um bom filme de terror, com os cabelos enormes caindo no rosto ensanguentado. Fiquei com medo enquanto lia e não me decepcionei com o final. No fim, o ódio supera até as barreiras da morte.
Conclusão
Resumindo, pra não me alongar muito, As Esculturas sem Cabeça é uma coletânea boa com histórias inéditas, que não apareceram nas anteriores. No entanto, não é a mais forte das publicações de Junji Ito.
Sempre trago Dismorfos como comparação, assim como O Beco, que possuem contos bem marcantes e perturbadores. Essa aqui é boa? Sim, é claro (é Junji Ito, difícil fazer algo que seja RUIM). Mas foram poucas que me deram medo de verdade ou que me incomodaram fisicamente, como as histórias de horror cósmico costumam fazer.
Mesmo assim, se você é um admirador de Junji Ito e seu estilo assim como eu, essa é uma publicação que só vai enriquecer sua coleção. Então, tranque bem as portas para receber As Esculturas sem Cabeça!