Okay, o que foi esse Ato 2 da temporada 2 de Arcane? Foi uma sequência de episódios tão sensível e, de certa forma, refrescante, mas dolorida de assistir. Foram laços se apertando e nós se desfazendo.
Vamos começar por partes.
AVISO!! ESTE TEXTO CONTÉM UM CAMINHÃO DE SPOILERS!!
Redenção
O primeiro episódio trouxe uma Jinx reclusa, mais calma. Vemos que os fantasmas dela estão mais calmos e ela finalmente está conseguindo processar que o Silco realmente não vai mais voltar.
Quem a ajuda nesse processe é Isha, essa garotinha quieta, um reflexo do que era a Powder no passado. Inclusive, a própria Jinx afirma isso, brincando de monstros assim como ela fazia com Vi na sua infância.
Isha trouxe mais humanidade para ela, que estava caindo num poço aparentemente sem fundo. Em determinado momento, vemos essa laço de irmãs se fortalecendo, assim como um lado da Jinx que pouco temos acesso, mas é maravilhoso de ver. Ela se divertindo, cuidando, se preocupando por alguém mais frágil que ela.
Junto a isso, vive uma experiência que nunca sentiu antes: foi acolhida. Depois de anos ouvindo que era um azar (jinx, em inglês), certa de que só conseguia destruir e matar, agora ela estranha os olhares e toques que a tem como heroína. Não reconhece essa posição e a aceita apenas com a sua ironia natural e encantadora.
Seja os Fogolumes (que acreditam terem perdido seu líder, pintando-o na parede junto dos outros), as gangues que se uniram, ou simples moradores que buscam esperança, todos encontram nela a força que desafia os Defensores. Que desde sempre os enfrentou, pintando o lado alto com suas cores bagunçadas. Agora, Jinx traz cor e luz às ruas sombrias do lado baixo.
Queda
Enquanto isso, Vi se afundou em poço de bebidas e lutas, não tendo nada mais a perder. Inclusive, é interessante ver como Jinx está explodindo em cores, cheia de saturação, e Vi está apagada, escondida atrás de uma cobertura escura.
Aproveitando para desabafar, ainda bem que eles não estenderam esse período da Vi, pois teria sido terrível vê-la mais tempo nessa situação. Principalmente enquanto a Caitlyn ocupa seu tempo com a Oficial Nolan.
Enfim, quando Jinx aparece dizendo que Vander está vivo, Vi ganha um novo propósito. Algo que a tira dessa espiral de autodestruição e acende a esperança de reconquistar parte do seu passado, já muito destruído.
Sinceramente, é reconfortante ver elas conversando normalmente, sem tentarem se matar. É um vínculo muito machucado e cheio de desconfianças, mas que ainda possui o carinho familiar. Afinal, ainda são irmãs, no final de tudo. E, por mais que estejam em conflito, no fundo ambas sentem falta do passado.
As correntes se quebraram… A criatura está livre!
Com isso, podemos falar de Vander. Valeu a pena a espera para finalmente vermos o Cão do Submundo em ação. Sanguinário, violento e uma verdadeira máquina de destruição. Porém, ainda Vander.
O momento que ele reconhece Powder já tinha sido emocionante, mas quando ele reencontra a Vi superou todas as expectativas. Vemos o que era a vida deles antes da tentativa de revolução contra Piltover. Aqui, Arcane amarrou várias pontas que poderiam ter ficado soltas.
Como era a amizade entre ele e Silco, o próprio Silco antes de ter se tornado o que se tornou, como Vander conhecia os pais de Vi e Powder, quem era a mãe delas. Enfim, um pouco de como era a vida e esses vínculos antes de tudo dar errado.
Também, a carta que Vander deixou para Silco caiu como uma luva entre as duas. O que poderia ser diferente se tivessem conseguido conversar antes?
De qualquer forma, a série nos deu alguns momentos incrivelmente preciosos. A reunião familiar, o momento de trégua entre Vi e Jinx, o chamado para entrar naquele abraço…
Foram momentos são sensíveis, tão honestos que podiam ter mudado o rumo das coisas. Jinx e Vi finalmente se reconectaram ao que fazia delas irmãs de verdade, tiveram de volta o que tanto sentiram falta. Isso, enquanto toca a sensível música “What Have They Done To Us”.
Porém, infelizmente as coisas boas realmente não são pra sempre, e Arcane sabe nos lembrar disso muito bem.
Preencher o vazio
Agora, o que falar sobre a Caitlyn? Primeiro, minha vontade foi chutar a Nolan pra fora daquele quarto. Mas, como a própria Ambessa falou, Cait estava tentando preencher dois buracos em seu peito: de Vi e da sua mãe.
A primeira, foi óbvio como foi preenchido (esperamos que não por muito tempo). Já a falta da antiga matriarca dos Kiramman foi substituída pela ira de uma noxiana desesperada para reconquistar sua família e provar seu poder.
Nela, Cait vê uma nova referência de mulher forte, uma nova guia e mentora. Podemos culpá-la, já que ela estava passando pelo luto, pela raiva e por um término? Não exatamente, mas foi angustiante ver ela tomando tantas decisões absurdas.
De qualquer forma, Caitlyn ainda é aquela mulher da temporada 1, gentil e cheia de compaixão. Talvez fosse apenas questão de tempo até seus sentimentos se organizarem e ela voltar a ter um pouco de juízo na cabeça. O terceiro episódio desse ato mostrou onde está sua lealdade e quem ela verdadeiramente é, inclusive se libertando do peso daquela capa.
Protagonismo de outros personagens
Em relação à Mel, ainda está cheia de mistérios, não sabemos onde ela está, se vai conseguir sair ou se vai virar mais uma marionete da líder da Rosa Negra. Por sinal, notaram que em determinada cena Mel aparece com um risco abaixo dos olhos? Muito semelhante à ilusionista que conhecemos bem.
Vou falar rapidamente do ato de heroísmo estúpido do Jayce. Sim, ele estava querendo acabar com mal que o Hextec provocou. Porém, depois de uma temporada inteira do Heimerdinger implorando pra fazer isso, ele decidiu acabar com isso no pior momento possível.
Jayce está tão perturbado quanto já vimos Jinx estar. Vozes na sua cabeça, perdido, rancoroso pelo que fez e pelos atos das pessoas à sua volta. Mais uma vez, Arcane nos mostra a consequência e força do trauma. Ninguém é vilão e ninguém é herói. Todos agem de acordo com suas verdades.
Além disso, o “Dr. Reveck” ganha muito palco neste Ato 2. Conhecemos um pouco mais de sua história, vemos como as criações dele foram catalisadoras de diversas mudanças e entendemos quais são suas motivações.
Por exemplo, sua filha, uma garotinha bonita que parecia ser uma bailarina… “Dr. Reveck” é um personagem intrigante de assistir. Frio, extremamente inteligente, mas que iniciou suas experiencias como um ato de amor. Ele tem uma segurança sombria de que a situação está sempre sob seu controle.
Ansiosa para ver ele correndo por aí no último Ato.
Laços
O terceiro episódio foi sensível e devastador. Ao som de “Remember Me”, assistimos às memórias de Vander, o amor que permeava aquela família. Imaginamos tudo o que poderia ter sido e não foi.
Vemos nessa nova (e provavelmente momentânea) dinâmica da Vi e da Jinx o fortalecimento desse laço frágil. Compartilhando memórias, lembrando do que elas eram antes de serem inimigas. Pensando o que poderiam ter sido ou o que podem ser daqui pra frente.
Perdas
Agora, lembrem da conversa da Ambessa com a Cait enquanto elas estavam treinando. Cada uma das coisas que a noxiana falou foi mostrado no final do episódio. Visão, poder, malícia e sacrifício, cada um deles foi posto em prática naquele combate.
Vimos a traição de Cait, lágrimas de lava escorrendo dos olhos de Vander e, o mais dolorido de todos, o último sacrifício.
Aquela coisinha pequena correndo para salvar sua irmã. Infelizmente, Jinx avisou. Seja ela puxando o gatilho ou não, todos ao seu redor morrem. Agora, como ela lidará com mais uma perda? Uma que ela tanto se esforçava pra zelar, que dedicou o resto do amor e cuidado que ainda tinha?
Independentemente do que nos espera no Ato 3 dessa temporada 2 de Arcane, uma coisa é certa: o brilho que podia ser uma luz no fim do túnel foi apagado. Todos estão machucados. E, como já comprovamos tantas vezes, Arcane nunca se propôs a ser uma história feliz. Ao contrário, é a história de um mundo de injustiças e de pessoas desesperadas. No fim, tudo o que sobra são cinzas e sangue.