Durante a Bienal do Livro Rio 2025, o Palco Apoteose Shell recebeu grandes nomes da literatura e entretenimento nacional e internacional. Na noite de domingo (15), o local ficou pequeno para o público que foi assistir Alexene Farol Follmuth, a escritora norte-americana por trás do fenômeno “A Sociedade de Atlas”. Sob o pseudônimo Olivie Blake, ela assina suas obras mais adultas e intensas, uma distinção que, como explicou na entrevista mediada pela tradutora e autora brasileira Clara Alves, ajuda a guiar o leitor: “Se você quer mistério, suspense, surpresa, incerteza, leia a obra da Olivie. Se você quer uma coisa mais certa, mais previsível e um final feliz, leia o trabalho da Alexene.”
Com uma conversa franca, cheia de humor e sinceridade, a autora arrancou risos da plateia ao revelar que começou escrevendo fanfics no site fanfiction.net e depois, gradualmente, fez a transição para AO3.
Ao comentar a repercussão de sua obra entre fãs da cantora Taylor Swift, Follmuth se mostrou surpresa: “Eu adoro a Taylor, nascemos no mesmo ano, 1989. Mas não sabia que ela iria se tornar uma referência tão grande com relação aos meu livros. As pessoas ficam online discutindo as manias e as coisas dos Swifties. Eu só queria dizer que assisti ao Reputation e não sei de que cyberpunk feminina em fúria ela está falando, é um álbum de amor!”
A autora também compartilhou as diferenças fundamentais entre seus dois alter egos literários: “Quando eu escrevo como Olivie, vou no piloto automático. São temas que estão no topo da minha mente: política, feminismo, convívio, tecnologia. Já quando escrevo como Alexene, eu preciso parar e pensar o que posso dizer a uma pessoa jovem que ainda seja relevante para ela. É muito mais difícil escrever para jovens, afinal, já faz um tempo desde que fui uma.”
Essa complexidade, no entanto, é o que move seu processo criativo. “Eu nunca planejo. Se eu souber como a história vai acabar, eu nem escrevo. Preciso me surpreender, e no final, quando tudo se encaixa, eu digo: ‘sou um gênio’. Porque a internet vai me chamar de idiota, então eu preciso me ver como um gênio”, brincou.
Farol revelou ainda que o ponto de partida para suas histórias geralmente é uma piada ou cena solta, que evolui organicamente: “Eu não começo a escrever até saber o que a narrativa parece. E também o que o narrador é, e como eles estão contando a história.”
Sobre personagens, a moça confessou um tipo peculiar de empatia: “Eu não tenho personagens que eu não gosto. Eu pensei sobre o que é a motivação deles. E para mim é interessante seguir o que alguém que não é eu pode fazer. Isso é o que a ficção é para: entender outra perspectiva.”
Noite de Cavaleiros (Twelfth Kight)
Ao falar sobre o seu livro mais recente, Noite de Cavaleiros (Twelfth Kight), escrito durante a pandemia e gravidez, e lançado em 2024, a artista detalhou como quis representar mulheres que raramente são bem recebidas na ficção: “Eu não vou escrever mais uma personagem boazinha. Eu vou escrever alguém realmente irritada, agressiva. Uma personagem mais pesada. A bitch, sabe? Eu digo isso com afeto. Quando conheci meu marido, ele me disse que adorava que eu sempre sabia o que queria. Isso me reafirmou.”

O livro, que foi um sucesso na Bienal, é descrito como “Uma comédia romântica geek jovem adulta ideal para fãs de jogos de RPG”, pois acompanha a história de Viola Reyes, uma jogadora online que cria um avatar masculino no jogo que intitula a obra, para evitar assédios, e lá conhece um jogador popular com quem cria um vínculo e inicia uma jornada de amadurecimento e descobrimentos em meio a aventuras.
Por fim, ao ser perguntada sobre hábitos de escrita, ela contou que só consegue escrever de frente para uma parede ou entrada. “Eu tenho uma paranoia de que alguém vai me atacar pelas costas. E eu sou mãe. Não tenho o dia todo. Então sento, escrevo e dou conta do recado.”
Com sua presença magnética, honestidade sobre o processo criativo e reflexões afiadas sobre literatura e identidade, Alexene (ou Olivie) provou por que é uma das vozes mais interessantes da nova geração de escritores. Uma escritora dividida entre mundos, mas inteira em sua autenticidade.