Chamar os Studio Ghibli de perfeito é chover no molhado, sempre há um de seus longas que estão no top 10 de alguém, mas um de seus títulos são unanimidade maior do que todos os outros, um que ainda é o favorito para se fazer cosplays, encanta pela magia e fantasia que rodeia a animação e trabalha simbolismos que apresentam a realidade do mundo afora, as quais estão presentes até hoje e isso é assustador. A Viagem de Chihiro é padrão obra prima em estética, emoção, roteiro e mensagem que não consegue ficar datada e está eternizada na história do cinema e nos corações de todo o mundo.

A viagem…

Chihiro está se mudando para outra cidade, eis que seus pais resolvem parar e conferir uma construção que deveria parecer antiga, mas se mostra mais recente que o normal, eles encontram uma mesa cheia de comida e resolvem comer. Chihiro sente o perigo e esse é o fim do que pode-se dizer de “mundo real”, pois a partir daí a fantasia escala para níveis extremos do lindo e do bizarro, todo um mundo construído em uma animação de duas horas que deveria ser exemplo para muitas séries medianas supervalorizadas hoje em dia. Muitas produções gostariam de trabalhar esse roteiro de uma história divertida e mágica com uma mensagem forte e de certa forma assustadora, mas tropeçam no desejo de lucros colossais de bilheteria e preferem sempre entregar os padrões genéricos repetidos por estúdios cinematográficos estadunidenses.

Essa crítica é válida pela saturação desse tipo de produção nas grandes telas, a qual migrou para o streaming, muitas produções antigas ainda conseguem ser maior e mais queridas que muitos filmes atuais. Afinal, o problema é a missão de ganhar dinheiro ou maus diretores e roteiristas?

A Viagem de Chihiro é primeiramente uma jornada espiritual escancarada. Chihiro chega em uma casa de banho frequentada por vários espíritos, comandada pela bruxa Yubaba, e precisa trabalhar para trazer seus pais de volta. Em meio a tantos conflitos na casa de banho, o querido e amado diretor Hayao Miyazaki orquestra uma obra de arte que se mostra um magnífico soco na boca do seu estômago que te vai doer por um longo tempo, por mexer bastante com misticismo e o sobrenatural, não existe limites para trabalhar qualquer tipo de fantasma, monstro ou bruxaria na trama, com isso se brinca com belas cenas que se mostram mensagens fortes sobre o Japão naquela época (e o resto do mundo também), dessas mensagem, talvez as mais fortes sejam retratadas por dois personagens, o Deus do Rio e o Sem Rosto.

Spoiler do filme

Uma criatura caminha até a casa de banho para relaxar um pouco, algo que parece um grande monstro de lodo e sujeira, Chihiro é uma das responsáveis para preparar seu banho, e após um grande caos e mau cheiro que esse monstro causa no lugar, a protagonista descobre o problema, e percebe ser algo maior do que aparenta. A criatura era na verdade o Deus do Rio, e seu lodo era o acúmulo de lixo e sujeira que se acumulou com o tempo, fazendo uma crítica social a poluição de rios que se alastra a tempos. Relembrando que essa animação é de 2001!

Já o Sem Rosto se mostra um ser espiritual um tanto controverso, muitos o vêm de forma romantizada sem sequer entender o conceito. Sem Rosto vê Chihiro e se mostra apegado a ela, ao deixá-lo entrar, o espírito curte estar na casa de banho e com todo ouro do mundo que sai de suas mãos, compra toda a comida e serviços do recinto, tudo para fisgar e comer suas vítimas.

O que poucos sabem é que Sem Teto faz referência ao rico elitista que consegue tudo o que quer na base da compra, o espírito devorar todo mundo é a forma como a elite trata a classe operária; os vêem como descartáveis e com uma única missão, servir os mais ricos. Entretanto, Sem Teto estava sendo influenciado pela casa de banho, que é o símbolo da luxúria e da ganância. Não é a toa que todos os espíritos não têm rostos.

Esse filme conquistou o Oscar de Melhor Animação em 2003 e outros trinta e quatro prêmios ao redor do mundo, ainda sendo o único filme não-estadunidense a conquistar nessa categoria, em pleno 2020.

A Viagem de Chihiro é obrigação para todos os amantes de filmes e/ou anime, uma obra prima em forma de animação e é uma grande alegria nunca ter sido sequenciada, o que se espera continuar assim, pois é prova para muitos que um filme de duas horas consegue ser mais completo que muitas séries de três ou quatro temporadas.

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