Bem-vindos ao Vintage et Underrated, a coluna que une o antigo que não sai de moda e o underground que todo mundo adora, ou deveria. E pra hoje, os ninjas cortadores de cebola vão passar por aqui com um mangá underground que completou seus 25 aninhos esse ano.
Sobre The Music of Marie
O mangaká Usamaru Furuya (Lychee Light Club, Teiichi no Kuni) é mais um dos discípulos do mestre Osamu Tezuka, porém que foi pra um caminho mais sombrio em matéria de traços e arte. Aqui no Brasil, o mangá foi lançado pela editora NewPop em volume único, mas a obra (lançada no Japão pela Birz) originalmente possui dois volumes.
A história é de arrancar lágrimas e o final é bem trágico, diferente de grande parte das obras do autor, que focam mais em uma linha de humor negro. Segundo o próprio, a ideia aqui era criar uma fábula para adultos. E já vou adiantando, que em algumas listas japoneses, o final desse mangá surge sempre nos top 20 da vida de finais mais triste ou melancólicos dos mangás (a autora que aqui vos escreve NÃO SUPORTA, de triste já basta a vida da gente).
Deus ex Machina e a relação entre guerra e ciência
Nessa obra, isso aí pode ser levado de forma literal, já que todo o enredo gira em torno de uma boneca mecânica imensa que canta uma música que deixa o pessoal pacificado. A figura de Marie inclusive muitas vezes lembra de certa maneira representações da Virgem Maria, mesclando sempre essa temática mecânica e espiritual/teológica, uma fórmula bem parecida ali com o Angel’s Egg.
Por outro lado, interessantemente o autor faz uma correlação direta entre tempos de paz e a estagnação tecnológica, como se só fosse possível chegar a um novo patamar de tecnologia, através das guerras.
O ambiente todo do anime é uma coisa que fica entre o medieval e um steampunk rudimentar (mas tem uns cavalos robô que aparecem) e, vale ressaltar, a história se passa numa ilha que parece ser isolada do resto do mundo, mas ninguém diz ao certo o porquê disso.
Personagens
O mangá gira em torno de 3 personagens principais e não dá pra não pensar em Edward Mãos de Tesoura, já que o plot de romance é relativamente parecido.
O protagonista se chama Kai e tem um design que deixa CLARO que o rapaz é meio bobo e ingênuo, mas ao mesmo tempo, é uma pessoa que não tem absolutamente NADA de especial, mesmo que a história inteira gire em torno do fato dele ter sim. É legal, pois em algumas fábulas, normalmente o protagonista tem essa vibe mesmo de ser alguém que tem uma característica muito marcante, mas fora isso, não é nada demais (vide A Lebre a Tartaruga).
Nossa segunda personagem mais importante é a própria Marie, a boneca voadora que canta e é adorada por todos, como uma santa mesmo. Ao longo da história, a gente descobre que ela é tipo uma espécie de entidade mesmo e só se comunica, obviamente, com o protagonista e através de sonhos. Mesmo assim, a forma de comunicação é meio telepática, meio empática, com ela repassando sentimentos bons para ele.
E a terceira personagem é por quem a gente fica de coração partido mesmo. Pipi tem um design bem diferente de Kai, já aparenta ser mais adulta e o que no protagonista parece ingenuidade, nela já soa mais como otimismo meio exagerado às vezes. Importante dessa personagem é: A coitada tá apaixonada e o boy o tempo todo fica na dúvida se fica com ela ou não, mesmo gostando da menina.
E falando dessa última parte, não é surpresa que o autor tenha escolhido criar esse dilema, como se amor e pureza não pudessem se encaixar no mesmo ambiente, afinal, toda a lógica do desenho passa por uma ideia meio cristã e, nesse caso, os desejos de adulto e uma vida comum são conflitantes com ideias de pureza que normalmente padres cultivam.
Pontos Positivos
- Design biomecânico LINDO;
- A história é rapidinha, tu lê em uma tarde;
- O ritmo da narrativa é muito gostoso.
Pontos Negativos
- A história às vezes é um pouco confusa com a relação do Kai e da Marie (as vezes soa como se a boneca tivesse ciúme);
- Tem umas pontas soltas;
- Final muito dramático e sem necessidade, se parar pra pensar bem.

Sinopse: Em uma ilha isolada, a vida das pessoas segue em harmonia sob a presença constante de Marie, uma misteriosa figura mecânica que flutua no céu e espalha sua melodia pelo mundo. Essa música serena, ouvida por todos, é tida como o elo que mantém a paz e impede que os homens se entreguem à violência. Entre os habitantes da ilha está Kai, um jovem que sente uma ligação especial com Marie e que, junto de sua amiga de infância Pipi, começa a buscar o significado por trás dessa presença divina.



