A Filha do Rei do Pântano, do diretor Neil Burger, que traz Daisy Ridley (Star Wars) como protagonista, é uma daquelas boas surpresas que encontramos ao procurar filmes novos despretensiosamente, pois é justamente assim que ele propõe a ser. Com uma divulgação modesta, o suspense, que é uma adaptação do livro de mesmo título, escrito por Hans Christian Andersen e Karen Dionne, chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (28 de setembro).
Não vá ao cinema esperando por um filme que irá mudar sua vida ou ficar marcado na sua memória por muitos anos, isso é claro, se o seu nível de relação com o tema abordado não for alto. Mas você receberá uma trama com um enredo e condução envolventes o suficiente para te manter interessado no desfecho e, principalmente, não te deixar entediado durante as 1 hora e 48 minutos em que estiver assistindo. Provavelmente ainda vai te fazer querer comentar com os outros ao sair da sala.
Nele conhecemos a história de Helena Pelletier, uma mulher de trinta e poucos anos que vive uma vida comum, trabalha em um escritório, tem um marido (Garret Hedlund) e uma filha, mas que esconde um passado sombrio, o qual acompanhamos desde o início. Até os 10 anos de idade, ela viveu isolada do mundo em um casebre no meio de uma floresta com sua mãe (Caren Pistorius) e seu pai, Jacob Holbrook (Ben Mendelsohn), a quem era muito apegada. Já com a mãe ela tinha uma relação de frieza. Lá, os três viviam no “estilo selvagem”, tendo que aprender a caçar para sobreviver, sem acesso a outras pessoas e nenhum tipo de tecnologia ou modernidade. Sem conhecer outra realidade, ela nunca havia questionado este fato, e inclusive, gostava. Era uma criança muito esperta, curiosa e sabia muito sobre a natureza. Só depois de um certo acontecimento ela descobre que seu pai na verdade era um sequestrador que raptou sua mãe e que ela foi concebida através de um crime.
O acontecimento é crucial para que Jacob seja preso e fique conhecido como “O Rei do Pântano”. Ela e sua mãe são resgatadas, porém, há um problema: ela não entende o que está acontecendo e não quer ser resgatada. A partir daí, passamos a ver os desdobramentos dessa história até chegar nos dias atuais, passando pelas angústias da menina ao ter que se adaptar a uma nova vida e, principalmente, se acostumar a ter uma nova visão do seu genitor, por quem ainda mantém um profundo carinho.
Anos depois, ao fugir da cadeia, Holbrook volta a ser uma ameaça, inclusive para sua filha e a família que ela construiu, mas será que Helena vai mesmo se sentir ameaçada pelo homem que, para todos é um criminoso, mas ainda é a pessoa que ela tem na memória como uma figura paterna amorosa e cuidadosa? É nessa hora que acontece a segunda grande virada de chave e começamos a ver a ver um maior suspense, com perseguições, reviravoltas e tensão.
PONTOS ALTOS
Não espere uma ação frenética quando a tensão aumenta. O longa acerta em manter a ansiedade em um ritmo mais calmo, e até mesmo sensorial em muitas partes, fazendo o espectador ficar imerso e se imaginar no lugar dos personagens. Ao mesmo tempo que traz uma boa quantidade de sequências dinâmicas em momentos adequados e sem jumpscares, mesmo que fujam muito da realidade. Para o contexto da narrativa elas funcionam. Muitas vezes você se pergunta “ué, não vai ter mais nada?”, mas também se satisfaz com o que tem. É um daqueles que, se você não estiver gostando, não insista, pois ele não fará esforço para te agradar a todo custo.
Ridley está em posição de total destaque, mostrando mais uma vez porque é uma das atrizes mais promissoras da nova geração de atores de Hollywood, e ideal para papéis onde tem que ser uma “supergirl”, que luta e é forte. Ela está bastante convincente.
PONTOS NEGATIVOS
Temos que relevar alguns absurdos para embarcar na história. Por exemplo, acreditar que a personagem principal ainda prefira tomar banho gelado no rio à noite do que em uma banheira quentinha por conta de suas raízes, ou que mesmo tão inteligente e antenada, não esteja consciente dos perigos aos quais está exposta. Fora todas outras conveniências que acontecem para que a história ande, que nesse caso, são bem previsíveis.
O fato do trailer e sinopse entregarem muito da historia também faz com que toda a expectativa fique para o final, que apesar de bom, não é extraordinário e chega a ser até previsível, devido a um spoiler, que vem em uma frase de efeito dita no início, repetida no meio e posteriormente no fim, o que pode decepcionar algumas pessoas, embora com a divulgação fraca seja muito provável que muita gente vá assistir sem saber nada sobre.
CONCLUSÃO
A Filha do Rei do Pântano traz uma nova abordagem interessante e cativante para uma questão delicada, que está presente no mundo real, em um novo cenário e panorama. Em O Quarto de Jack, por exemplo, vemos essa mesma história sendo contada em forma de drama e a partir da visão da mãe, que foi abusada, e aqui, com alegorias fantasiosas e na visão do fruto do abuso, que já tem idade suficiente para entender o que aconteceu quando descobre tudo e que precisa lidar com seus traumas. Vale a pena o play (se essa temática não te despertar nenhum gatilho)!