Uma viagem profunda de introspecção e melancolia aguarda o espectador de A Bride for Rip Van Winkle, de 2016. Então, dividida em duas partes — Shunji Iwai – Tudo Sobre Lily Chou Chou (2001), Love Letter (1995) — traz para as telas uma história que alcança o equilíbrio entre a felicidade e a mais desesperadora agonia.
O diretor, segundo entrevistas, faz uma enorme colcha de retalhos de experiências de sua própria vida para mostrar sua visão do mundo. Ou seja, um lugar cheio de falsidade e dificuldades, enquanto revela a esperança de que, em algum ponto de nossas vidas, existirá conforto — em algum nível.
O enredo de A Bride For Rip Van Winkle
O longa conta a trajetória de Nanami, uma professora com uma vida monótona e cansativa. Assim, o escape diário dela é postar notas no “Planet” — uma nova rede social — onde conhece um jovem, Tetsuya, com quem trocava mensagens frequentemente.
Então, após certo tempo, ele a convida para um encontro na vida real, começando a namorar e logo se tornam noivos. Conforme a data do casamento se aproxima, a protagonista se vê pressionada a trazer alguns parentes para a cerimônia.
Assim, contata um amigo online que recomenda um homem — Amuro — para contratar atores para serem seus falsos parentes. Alguns meses depois, a mãe de Tetsuya contrata um “destruidor de casamentos” e causa o divórcio de Nanami, que sai da casa de onde morava e procura um novo trabalho.
É a partir desse ponto que a segunda parte da história se inicia: após uma visita ao íntimo de Nanami e uma familiarização que passamos a ter para com seus problemas. Então, começamos a assistir sua tentativa de se reerguer, assim como as consequências dessa tentativa.
A protagonista trabalha de diarista num hotel enquanto passa a frequentar eventos, fingindo ser parente de noivos ou de aniversariantes para ganhar a vida. É num desses eventos que ela conhece Mashiro — uma mulher ousada e divertida, que a tira do eixo e da correria por uma noite.
Então, Nanami continua se mantendo com pequenos bicos, até Amuro a chamar para trabalhar numa mansão como governanta e passa a morar lá com Mashiro.
Onde entra o GL?
“A Bride for Rip Van Winkle” carrega um bonito, adulto e sensível relacionamento entre duas mulheres e o desenvolve de uma maneira sutil. Inicialmente cria uma dúvida e lentamente aproxima as personagens para enfim trazer uma bela história de amor.
Além disso, a sexualidade de ambas é tratada com naturalidade, sem a estranheza comum em longas desse tipo — especialmente quando falamos de mídias japonesas. E a grandiosidade dessa relação na vida de Nanami (e consequentemente no olhar do espectador) é de certa forma surpreendente.
De qualquer forma, num filme melancólico e cru como esse, já era de se esperar que o romance entre as personagens não quebraria o clichê do final trágico – é até antecipado pelo espectador. Mesmo assim, não deixa de ser uma história tocante e que cumpre seu papel dentro do longa.
Considerações finais
Apesar da sinopse confusa e da duração considerável do longa, as peças se encaixam no decorrer da primeira metade e o desenrolar das coisas é muito mais natural — um diálogo direto com a vida da protagonista, que é afastada da vida conturbada e plastificada onde se sentia presa e passa a ser independente e se permite viver um dia de cada vez. Uma vez que possuímos material o suficiente para compreender a mente de Nanami, é possível focar na amargura que a cerca e viver com ela seu processo de amadurecimento.
Existe também uma construção de atmosfera muito forte no decorrer dos minutos: a sensação de sufocamento na primeira parte e o sentimento de caminhar em direção à um abismo na segunda deixa o espectador totalmente impotente, sendo obrigado a assistir cada passo da protagonista apesar de saber que eles não acabarão bem. Resumidamente, “A Bride for Rip Van Winkle” é um filme repleto de duplo sentido e ressentimento – que junta duas almas feridas e as recompõe, para depois quebrá-las novamente.