Quem nunca estudou relações ecológicas em biologia na escola jamais irá perceber que Mr. Unlucky Has No Choice But To Kiss é um exemplo perfeito de relação que vai do parasitismo ao mutualismo. Entenda o porquê.

Fukuhara (Sota Ryosuke) nasceu com uma condição pra lá de duvidosa: ele nunca tem sorte. Sua vida é baseada em levar pancadas na rua, pisar em cocô de cachorro, quebrar os seus pertences e outros problemas que somente a pessoa mais azarada do mundo pode imaginar. Diferente dele, Shinomiya (Sato Yusuke) não precisa fazer esforço nenhum para viver uma vida repleta de sorte e boas realizações. No instante em que Fukuhara percebe que o seu azar desaparece quando ele está próximo de Shinomiya, vemos nascer ali uma relação de dependência aparentemente muito positiva. Até certo momento.

Ao notar que não era correto se aproximar de Shinomiya por puro interesse, o protagonista se vê dividido em um dilema moral. Entretanto, por mais horrível que a sua atitude possa parecer, na visão de Shinomiya o relacionamento deles estava funcionando de maneira excelente. Logo, o que Fukuhara pensava ser ruim, era, na verdade, algo ótimo e necessário para os dois.

Partindo dessa imensa diferença entre os personagens principais, o drama japonês surge como uma grande realização do país diante de alguns esforços para se manter ativo no mercado de adaptações BL, que parece ganhar cada vez mais destaque no mundo todo. Apesar de simples, a proposta rende um desenvolvimento extremamente cativante, e condensa perfeitamente os melhores elementos dos típicos “plots fantasiosos” vindos do Japão em apenas 8 episódios de em média 24 minutos cada.

A ideia de unir o casal em primeiro plano e e esperar que eles se acertem romanticamente com o decorrer da série é um dos passos primordiais que o roteiro toma logo nos primeiros minutos de adaptação. Essa decisão se mostra original o suficiente para fazer com que algumas surpresas venham à tona nos melhores momentos, como o beijo dos protagonistas no episódio piloto, algo bastante raro de se ver, pois a grande maioria dos BLs japoneses desse tipo nem sequer rende um beijo tanto no começo quanto no final.

Outra bola na rede por parte do roteiro são as situações cômicas que vemos ganhar espaço de formas inusitadas. O humor é trabalhado com atenção durante o BL inteiro, sendo quase impossível não dar boas gargalhadas em algumas cenas específicas. Além disso, o desempenho dos atores Sota Ryosuke e Sato Yusuke consegue sair exatamente como o esperado para quem leu o mangá.

Por outro lado, o que não rende muito bem são os cortes bruscos na maioria das vezes, a direção sem muita identidade, e a fotografia que conta com um filtro luminoso forte e com aspecto de vidro embaçado. Fora isso, Mr. Unlucky Has No Choice But To Kiss tem tudo para se consagrar como um dos melhores já feitos no Japão. Qualidade, humor e uma história lindamente construída na medida certa.

REVIEW
Mr. Unlucky Has No Choice But To Kiss
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Matheus José
Graduando em Letras, 23 anos. Crítico e redator, já passou por publicações nos sites Jornal 140/ VIUU, Suco de Mangá, BoysLove Hub e Aquele Tuim.
mr-unlucky-has-no-choice-but-to-kiss-reviewFukuhara Kota (Sota Ryosuke) é um universitário desastrado e terrivelmente azarado. Embora nunca se sinta abatido por isso, você pode ter certeza de que, se algo tiver a chance de dar errado quando ele estiver por perto, é bem provável que vai! Um dia, ele estava prestes a entrar na frente de um carro e sofrer um acidente de trânsito quando foi salvo por um colega da faculdade chamado Naoya Shinomiya (Yusuke Sato). Ele é o total oposto de Kota: seu "problema" é ser "amaldiçoado" com uma boa sorte infinita. Kota sente-se grato pela ajuda de Naoya e tenta pedir a esse novo conhecido para ser seu amigo, mas escolhe mal as palavras e, acidentalmente, faz Naoya acreditar que ele está pedindo para os dois serem amantes. O "sortudo" Naoya, surpreendentemente, aceita, e a dupla embarca em um relacionamento não convencional. Será que o caos de Kota trará um gostinho do desconhecido para a vida de Naoya? E o romance acabará com o azar de Kota?