Na década de 90, o Rio de Janeiro viveu um terror que fizeram os cariocas se trancarem em suas casas, uma onda de sequestros gerou uma grande movimentação por parte da polícia a qual foi contra o próprio protocolo do policial, A Divisão é praticamente uma história a qual trás todo esse cenário de um estado completamente amedrontado onde não se confia no primeiro estranho que vai te pedir as horas. Um filme do gênero policial de grande potencial com aqueles padrões de filme nacional que não se sabe o porquê ainda insistem na mesma fórmula.
A Globoplay se mostra forte na era do streaming, mesmo com a chegada da Disney+ e a popularização da Amazon Prime Vídeo, o Brasil se mantém na disputa com grandes produções e consegue levar público. No caso, A Divisão é uma série que explora os sequestros na década de 90 no Rio de Janeiro, isso gera bastante conteúdo suficiente para existir essa série, ou seja, não precisa enfiar tudo que a direção e produção achou bom ou “bem gravado” na edição final, ele deixa de ser um filme e se torna um compilado de vídeos gratuitos, e esse foi o desastre que acabou com esse filme.
A trama é lenta, arrastada, se mostra necessário pela construção de todo arco de investigação policial e cenas de tiroteio, mas têm tanta ponta solta que pareceu ser picotado pelos produtores, pois o filme é tão longo que perde a vontade de continuar assistindo, levantar e ir embora, construído naquela fórmula repetida inúmeras vezes que só degrada a produção, umas trilhas de funk e rock pauleira gratuitas, diálogos excessivos em cenas que visualmente já foi explicada e personagens que mudam do oito a oitenta num estalar de dedos, A Divisão é uma bela receita que foi jogada no liquidificador e resultou em um monte de retalho o qual sobrepôs a história do filme, e antes fosse esse o único problema por parte da produção.
Pode parecer uma opinião um tanto rigorosa ou de alguém que já estudou e trabalha nessa área, mas não é necessário saber como funciona os bastidores de uma produção cinematográfica para perceber o desastre que é a edição desse filme. Primeiramente a filmagem, plano detalhe é um grande diferencial para filmes policiais; o gênero necessita desse tipo de linguagem para fazer aquelas cenas de cano da arma, destrave da pistola, envelopes contendo evidências para desvendar o mistério, todo um jogo de cenas que envolve o público e constrói aqueles momentos onde te prendem a atenção e cresce a tensão.
Entretanto, quando se usa e abusa desse tipo de filmagem, perde todo o sentido e fica irritante. As cenas de diálogo trabalham conflito de relações junto com silêncio constrangedor para intensificar a tensão da cena, junto com cenas de tiroteio muito bem gravadas em espaços muito pequenos, mas planos detalhes exagerados onde a câmera quase entra na boca dos atores, difama completamente o que poderia uma boa cena de diálogo, tiroteio, plano de investigação ou perseguição policial. Não esquecendo e colocando como destaque a mixagem de som horrorosa que em alguns momentos a caixa de som do cinema estoura com ruídos, pode levantar a ideia da qualidade de som da sala, mas já faz algum tempo que filmes produzidos do grupo Globo sofrem com uma edição de som tão mal feita, será que são os cinemas ou desleixo da Globo Filmes?
O elenco pode não ser o grande diferencial, contudo se destaca em atuação, o protagonista Sílvio Guinndane ser o policial rigoroso e pavio curto que defende o sistema, contracena com Eron Cordeiro, o delegado corrupto, que sequestra “bandidos” para questionar sobre a onda de sequestros, burlando o sistema para ajudá-lo. Mesmo que os dois estão do mesmo lado e precisam ser parceiros, batem de frente por ideologias diferentes – o quão reflexivo e debatido é isso hoje.
A parte da polícia corrupta e como alguém se envolve com isso é algo tão real que assusta o público, ou nada sente pois já sabe como é se pensar no mundo real. Ao mesmo tempo se explica os motivos do sequestrador e como o deputado estadual usufrui dessa onda de sequestro a seu favor, nada mais brasileiro que isso, no quesito profundidade, esse filme consegue apresentar uma essência de corrupção e justiça que caminham lado a lado, mas não desenvolve bem por causa da produção já citada.
A Divisão é uma produção bem precária em paralelo a ceifada dos produtores executivos que condenou a chance de um belo filme. O exagero de coisas mostradas nessa produção poderia se questionar o porquê não fazer uma série, só que a mesma já existe, logo, porque tanta coisa em um filme?
A forma cansativa e mal desenvolvida desse roteiro, junto com um desastre de produção, condena por completo o filme e entristece àqueles que vêem o quanto evoluiu o cinema brasileiro, A Divisão é mais uma exceção a regra do que todos acreditavam que o Brasil tinha superado em produções cinematográficas.