Fragmentos do Horror é o primeiro mangá da DarkSide Books, e contempla oito contos extraordinários (no sentido amplo da palavra), de Junji Ito, considerado um mestre do horror japonês.
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O Retorno
Lançado pelo selo Darkside Graphic Novel, o primeiro mangá da editora, Fragmentos do Horror é uma coletânea que marca o retorno de Junji Ito após oito anos fora do gênero horror. No posfácio do livro, o autor conta de como foi seu retorno e até mesmo se questiona sobre sua volta – e quanto a qualidade de seus novos contos.
É claro que não vamos querer um autor como ele, longe das páginas de um mangá. Seu retorno é muito bem vindo, por sinal.
Envolvência Tentacular
Aos que já estão acostumados com as bizarrices sobrenaturais do autor, sua forma de contar e formular um suspense estão intactos. São oito obras que vão do delírio imaterial ao gore caótico visceral, literalmente.
Fragmentos do Horror conta com um pouco mais de 200 páginas, mas por conta do visual carregado – e talvez até mais em primeiro plano que os textos – a leitura se dá de forma rápida e intensa. É interessante fazer uma breve pausa após cada um dos capítulos e refletir sobre o que lhe fora contado, já que além do explícito, a mente de Junji Ito com suas ilustrações possuem uma gama profunda de imaginação. É possível ficar um bocado de tempo admirando cada um dos quadros.
DarkSide of the Horror
A edição da DarkSide Books vem em capa dura, com uma ilustração do personagem Tomio em referência da obra de Edvard Munch, O Grito. A capa ainda conta com um trabalho em alto relevo que se visto na contra-luz, é possível ver os detalhes tortuosos e mórbidos do autor.
Outro ponto interessante a ser comentado é de que a obra foi traduzida diretamente do japonês, por sinal, muito bem adaptada e creditada a Akemi Ono. Fragmentos do Horror é uma edição nacional de Ma no Kakera, serializado na revista Nemuki – a mesma de Tomie e Yami no Koe – entre 2013 e 2014.
Diante do sucesso da publicação e vendas (entre os mais vendidos da Amazon), fica a esperança da editora lançar mais obras japonesas, e claro, do próprio Junji Ito, que apesar de que no passado tenha sido publicado algumas de suas obras por aqui, não é um trabalho fácil encontrá-las.
Escuridão Convidativa
Se você ainda não teve nenhum contato com o horror japonês, ou mesmo nenhuma obra de Junji Ito, Fragmentos do Horror é uma ótima pedida para você iniciar sua jornada pelo obscuro universo do autor. Confesso que não é uma obra para Todos. O clima pesado e angustiante nauseante, pode não ser recomendado a quem não está acostumado o gênero, ou mesmo, pode não agradar quem espera uma história mais longa.
Dissecação
- Futon, a mais curta, é o primeiro teste com o estômago do leitor. O trabalho de Ito com a sequência/virada de página neste conto, é extraordinário.
- Monstro de Madeira, trabalha com o apego material, a segurança em nosso próprio lar e de como o exterior pode se infiltrar em nossas vidas. Um detalhe – e de como a mente de Ito é insana – é quando vemos imagens e olhos na madeira. E se realmente nos observassem?
- Tomio – Gola Rulê Vermelha, tremendamente angustiante, como é passar sua vida segurando uma parte de seu corpo sem deixar cair, custando-lhe a vida?
- Suave Adeus, é quase que uma história de amor. Quem aí lembra de Padre Quevedo? Se sim, lembra do conceito de ectoplasma e de você mentalizar tanto uma pessoa, que mesmo depois de morta, ela continua a “existir”? Um dos meus contos favoritos!
- Dissecação-chan, um thriller hospitalar que testa novamente sua resistência contra o “gore”.
- Magami Nanakuse, este é dos mais bizarros. Sinceramente, nunca pensei em ler algo dentro do contexto horror e “tic nervoso”. Essas minúcias é que deixam a obra ainda mais brilhante.
- Pássaro Negro, é a que se enquadra na mais nojenta. Nessa aqui, em minhas reflexões, o autor consegue me levar aos mitos nórdicos, ouroboros e até mesmo Tolkien, trazendo o lado mais folclórico e sobrenatural a obra.
- A Mulher que Sussura, trata de um relacionamento abusivo, do aproveitamento de um com o outro e suas consequências. Talvez, o conto mais inquietador e reflexivo da obra, que fecha de forma brilhante.