Três personagens irrelevantes jogando bola de uma distância incrível durante um minuto e meio, numa sequência com animação digna de Gainax nos seus dias de contenção de gastos: assim começa a série Sakamoto Desu Ga, uma série que absolutamente não se envergonha de parecer ridícula para fazer o espectador rir. Se funciona? Leia mais para saber!
Sakamoto Desu Ga é um anime animado pelo Studio Deen (Shouwa Genroku Rakugo Shinjuu, Kono Subarashii Sekai ni Shukufuku wo!), baseado em um mangá homônimo de 27 capítulos. O mangá foi publicado originalmente na revista seinen Fellows!, de séries como Kenzen Robo Daimidaler e Hinamatsuri, compilado em 4 volumes, e é publicado em inglês desde 2015 como “Haven’t You Heard? I’m Sakamoto”. De fato, minha grande surpresa com Sakamoto-kun até agora foi descobrir que o mangá não é em formato 4-koma, porque tem uma série de piadinhas muito bem definidas. Essa é a única obra até o momento da autora Nami Sano, mas já atingiu grande popularidade, e esta adaptação foi uma das grandes apostas da temporada de muitos.
Esse anime definido pelos gêneros comédia e escolar, realmente foca na comédia, e apesar de se tratar de um seinen, desde o primeiro minuto eu adorei esse anime por possuir uma humor próprio de shounen como Beelzebub e Sket Dance. É uma comédia mais inteligente, digamos, do que a do shounen médio, mas que não deixa de ser escrachada – afinal, tem algo mais escrachado do que três personagens secundários jogando uma bola de um lado para o outro, em uma cena praticamente estática, no primeiro minuto e meio de uma série? Dificilmente.
Quem é você, Sakamoto?
Sakamoto Desu Ga começa se zoando, e é isso que dará o tom da comédia de toda a série, a julgar por seus três primeiros episódios. Sakamoto Desu Ga – em tradução livre, “É o Sakamoto, mas…” – conta a história de um rapaz chamado – adivinhem! – Sakamoto, que é basicamente a definição do termo “pica das galáxias”. Ele é o estudante que ganha os corações de todas as garotas e todos os inimigos, e responde a todas as perguntas que o professor faz; o terror das garotas manipuladoras; o salvador dos fracos e oprimidos. Tudo isso sendo belo, usuário de habilidades especiais e mestre de yoga e artes marciais nato: este é Sakamoto-kun. Mas por que eu sequer estou tentando descrevê-lo com palavras? Palavras são insuficientes para descrever Sakamoto.
Sabem o video do posto de gasolina? É basicamente isso que Sakamoto faz no primeiro episódio; mas essa é literalmente só uma das muitas coisas que ele faz no episódio. É esse o nível da genialidade do rapaz. Ele, que tem como lema em engrish “cool, cooler and coolest”, é um verdadeiro Gary Stu – daqueles que não aceita fazer coisas ilícitas para se dar bem, mas sempre se sai mesmo assim, e sai de todas as situações com um ar de confiança. Sucede que seus feitos fazem com que ele atraia a atenção dos piores gangsters da escola, que querem acabar com a sua popularidade – mas é claro que eles nunca conseguem, e até eles acabam sempre se rendendo aos charmes de Sakamoto-kun. Sakamoto não tem poderes sobrenaturais, em teoria, mas a comédia não se envergonha de colocar as situações mais absurdas, golpes à la shounen, luta de espadas com o ferrão de uma vespa e a lapiseira – sim, isso acontece de verdade – e todo tipo de absurdo escrachado para fazer você rir com Sakamoto e seus personagens secundários, todos incrivelmente divertidos. E consegue.
Um ponto em que Sakamoto Desu Ga brilha demais é na sua produção. O Studio Deen já tinha mostrado na temporada anterior que não está mais para brincadeiras com a produção de Shouwa Genroku Rakugo Shinjuu e Kono Subarashii Sekai ni Shukufuku wo!, e a qualidade de suas produções continua melhorando! Se outrora o estúdio era conhecido por cenas de qualidade questionável e um mal gosto nas escolhas de adaptação, só nesse ano já tivemos três séries que surgiram como adaptações de séries já consagradas e foram – ou tem sido – muito bem produzidas pelo estúdio.
Produção nota 10
A produção sonora é realmente onde a série mais impressiona: já no primeiro episódio, temos uma música de “ambiente escolar” com uma pegada de jazz, que lembra séries clássicas dos anos 90 como Sailor Moon; é inconfundivelmente uma música de ambiente escolar. A abertura de rock e letras em cores psicodélicas chega a lembrar a clássica abertura de Great Teacher Onizuka, mas a melodia com mais energia me lembra de aberturas de séries como Mekakucity Actors e Noragami. Ou seja: é muito, muito grudenta. E vamos falar dos dubladores? Dubladores veteranos do naipe de Akira Ishida e Yui Horie dublam personagens secundários absolutamente sem importância – esse é o nível da coisa. Além de tudo isso, não podemos esquecer de falar da arte; o character design é belo (como não podia deixar de ser, afinal Sakamoto é belíssimo) e até a animação, que tem esses momentos de pouco ou nenhum movimento – afinal, não é muito rica, financeiramente falando – tem também alguns momentos belíssimos.
O fato é que, apesar de toda essa produção, a comédia literalmente se resume em como Sakamoto se esquiva das situações mais difíceis e constrangedoras com sua criatividade, quando não apenas com o poder de ser Sakamoto. É um negócio louco. A comédia é isso; é 24 minutos disso. Se o tema do sujeito que é impecável na escola te toca de alguma forma, esse anime é para você, definitivamente. Mas se não, pode ser entediante. Pessoalmente, eu normalmente sou chata com comédia shounen, mas essa excentricidade de Sakamoto desde o primeiro momento me cativou; achei como Beelzebub – com muita comédia e gangsters – mas curto. Ou seja: curtindo bastante, e que venham os próximos episódios!