É difícil falar sobre o disco de estreia da integrante do TWICE, CHAEYOUNG, porque ele reúne uma pilha de ideias – e sons – que orbitam o k-pop, mas não o k-pop que conhecemos. Trata-se de um lado incomum do gênero, pouco visto nos grandes programas de variedades ou nos charts sul-coreanos.
Pulsa em LIL FANTASY vol.1 o alternativo que há muito tempo vem se estabelecendo nos alicerces do k-pop, especialmente por nomes como iiso, BÉBÉ YANA e SUMIN. Isso ocorre porque todo som diferente que surge no k-pop nasce da incursão desses artistas pouco conhecidos em estilos distantes da hegemonia criativa das grandes empresas, e que portanto são eles que acabam levando essas novas influências para a Coreia.
Foi assim com as tendências de house na metade da década de 2010, e o mesmo vale para estilos como drum and bass, jersey club, UK garage e outros, que fizeram do NewJeans o grandioso estopim de mudança na indústria.
O puro k-pop, visto de dentro
É a partir desse contexto também que os membros do BTS puderam lançar discos solos com abordagens mais incomuns de R&B, vocal jazz e hip hop. A diferença substancial entre o que eles fizeram e o que CHAEYOUNG faz aqui é que os discos solos do BTS olhavam para fora da Coreia, enquanto ela olha para dentro. Quem acompanha o lado mais “alternativo” do pop sul-coreano vai captar de primeira a essência deste material.
São sons que percorrem o R&B com toques sutis de música eletrônica, codificados pela massa cinzenta e fria do bedroom pop. Isso funciona muito bem na voz dela, especialmente em faixas como “BAND-AID” e “SHOOT (Firecracker)”, que contam com sintetizadores solares, quase se contrapondo à atmosfera mais soturna dos gêneros-base do disco, como se dissesse: apesar da presença desses estilos, o que está sendo feito segue sendo o mais puro k-pop.
E isso é o que torna tudo mais interessante. Há um contato íntimo da artista com esse lado alternativo, que vai além do k-pop, como demonstra na colaboração com Gliiico, trio japonês de indie rock e indie pop.
Conclusão
Mais do que provar valor por meio dessa boa junção de referências, CHAEYOUNG em LIL FANTASY vol.1 assume um risco que poucos solistas no k-pop têm coragem de correr: empregar ideias nas quais confia e nas quais sente liberdade de se expressar. Por isso, momentos como “그림자 놀이” soam perfeitamente ajustados a personalidade dela, cujo drum and bass funciona como uma afirmação do quão atenta ela está aos detalhes e da sua vontade de fazer diferente.
É de longe o melhor solo do TWICE, não apenas pela ousadia – que merece todo o mérito –, mas por genuinamente soar bem, se ajustar ao k-pop à maneira de CHAEYOUNG e fazê-lo sem ignorar a base da indústria, representada por artistas que, inclusive, aparecem aqui.