segunda-feira, outubro 6, 2025
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Mystical Festival | Uma Noite Histórica para o cenário Visual Kei Brasileiro

De todos os shows que tivemos a alegria de cobrir, o Mystical Festival, já se antecipando no nome, foi o que talvez trouxe a experiência mais arrebatadora pelo peso de seu significado. O fandom de visual kei brasileiro é vasto em gêneros, idades, visões de mundo e, claro, antagonismos também, por que não? Mas independente das gerações e das tretas, alguns nomes são consensuais no passar dos anos e o MALICE MIZER definitivamente é um destes nomes. Assim como falar de hide, você pode talvez não ligar muito para as músicas de Mana, Közi e Yu~Ki; mas negar o peso de suas composições nos seus anos à frente do Malice Mizer simplesmente não é coisa que se faz.

Cientes disto, tomamos alguma ciência do peso real do Mystical Fest e seu ineditismo: esta foi a primeira vez de Közi em terras brasileiras. Esperança nutrida por muitos, uma vez que esta não fora sua primeira aparição em terras latino americanas. Um ano antes, o artista esteve no México e o Chile, acompanhado do Kaya e do Mana, para uma festa do chá, seguida de uma apresentação acústica sua no dia seguinte. Há inclusive a chance de algum leitor ou leitora ter ido à ponta Pacífica da América Latina para não perder a oportunidade. Afinal, o tom todo que vem ditando este ressurgimento da cena visual kei é: aproveite enquanto é possível. Nunca se sabe o dia de amanhã.

Por isso, ainda que o evento tenha sido realizado na data mais inusitada possível para um show, numa tarde de uma quarta-feira (é preciso apontar o elefante na sala, não tem jeito), isso não impediu uma longa e cheia fila preenchendo quase a totalidade da Praça Carlos Gomes, grande nome brasileiro da composição musical (autor de óperas, com um busto seu morando bem ao lado do Teatro Municipal do Rio de Janeiro). Apesar da data ter inviabilizado um sold out certeiro, isso não impediu que viesse gente de tudo quanto é canto. E aqui não falo do Rio de Janeiro, que é do lado. Falo do Sul, falo de Sergipe. Falo de pessoas que tiveram que marcae vôos ou tiveram que arrastar seus responsáveis de suas obrigações cotidianas em prol de um sonho inédito.

Sobre o evento em si, é bom fazermos justiça para não pecarmos por negligência: carregando o nome do Mystical Festival estiveram também duas pessoas muito bem carimbadas em apresentações no Brasil: o guitarrista Hizaki, que já veio com o Versailles e o Jupiter e Kaya, que ainda há pouco se apresentara em Brasília, no Anime Summit. Outra marca inédita no Brasil, nem um pouco negligenciável, é que pela primeira vez Kaya se apresentou acompanhado de Hora como Schwars Stein, a dupla gótica que iniciou toda a carreira musical do cantor. E como não há nada de bom que não possa melhorar, os anúncios do Mystical Festival falavam de um novo projeto musical, o MAYOHK (pronuncia-se algo como “Majoatchka”, ou マージョアチェカ, vá entender?) composto pelo mesmo Hora em companhia de… Közi!

As apresentações aconteceram durante a noite, mas a fila para o Cine Joia já era visível desde o meio dia. Por volta das 15:30 as filas começaram a se organizar para a interação com os músicos e nesse meio tempo quem sabe melhor o que aconteceu e como aconteceu foi o público. Deste lado de cá, sabemos melhor sobre os shows em si e seis horas de ônibus não vêm sem sua dose de desconforto, então o redator foi capotar em algum canto para voltar perto das 19h, o horário previsto para o início do Mystical.

O primeiro elogio que esse festival merece logo de cara é na pontualidade de sua execução. Normalmente um atraso ou outro é esperado, até mesmo porque os problemas técnicos amam aparecer de sopetão não importa quantos testes e regulagens sejam feitas com antecedência. Não foi o que aconteceu. Logo assim que o relógio marcou as 19h, Hora subiu ao palco e dirigiu-se ao seu mixer.

mystical festival visual kei 2025
Foto: @sucodm / @erickrekishi

Aí morou a primeira grande surpresa do dia. A cabeça do pessimista, que além de não acreditar no que estaria prestes a ver (com uma sensação similar ao “Será isso real mesmo? Não enlouqueci?), jamais esperaria ver o nome principal logo no começo. É lógico que a primeira apresentação seria do Schawrs Stein… até o momento que não foi e Közi subiu para dar início a ADAGIO. O MAYOHK abriu a noite e ali voltei a ser uma criança feliz.

mystical festival visual kei 2025
Foto: @sucodm / @erickrekishi

Vejam só vocês que a conjugação verbal deste artigo já se bagunçou, como é de costume. A verdade é que é um tanto difícil falar deste show de maneira impessoal. E quem poderia, depois de ver um ídolo de adolescência ali na sua frente, coisa que julgava impossível? Como se ouvir Közi cantando ao vivo não bastasse, foi possível conhecer, ainda que por breve momento, o Közi guitarrista em C’est si Bon, faixa título do álbum de estreia do MAYOHK. A guitarra em miniatura que parece ter saído da Tectoy, era na realidade – assim um amigo me esclareceu – uma Traveler, cujo nome não existe de graça, pensada pra viabilizar um vai e vem de cima a baixo pela América Latina. A apresentação do MAYOHK acabou com Sexy Music, onde Hora e Közi compartilhavam os vocais numa faixa animadíssima recheadas de slaps que parecem ter saído de uma faixa do Dead or Alive.

mystical festival visual kei 2025
Foto: @sucodm / @erickrekishi

Findo o primeiro show, as luzes se apagaram e, com muita rapidez, técnicos encheram o palco para ajustar os instrumentos para o show de Kaya e Hizaki. Além da guitarra, havia o baixo de Cero, integrante do Jupiter e surpresa do evento. Era possível vê-lo em meio ao escuro fazendo o papel típico do músico que arruma a casa, posicionando os setlists nos três cantos do palco. A cena foi pessoalmente tocante, porque a gente vê que show é show em tudo quanto é lugar e para qualquer um. De carinha do setlist para outro carinha do setlist, rolou ali uma identificação. De todo modo, a peruca mui mariana de Kaya chegou primeiro que o cantor, arrancado gritos e mais gritos da plateia. O look barroco a la Maria Antonieta do Kaya veio para casar muito bem com o look já bem conhecido do Hizaki, também barroquíssimo, o que rendeu performances teatrais em meio a um setlist com músicas de ambos os artistas.

mystical festival visual kei 2025
Foto: @sucodm / @erickrekishi

O show de performance veio bem a calhar, pois algo na equalização das músicas não casava tanto. Teria algo a ver com o equipamento do Hizaki dando pau poucas horas antes, correndo no improviso com o equipamento do Cero? Não era nada de crítico, apenas um estranhamento (ou chatice) de ouvido de músico. Esses detalhes foram encobertos pelos talentos da vez, seja a maestria vocal do Kaya, que canta muito bem parecendo fazer pouquíssimo esforço ou a destreza descomunal do maior fã de Angra do Japão, Hizaki, que toca firulas e mais firulas na guitarra com a maior e mais aparente facilidade. O que também passou longe das expectativas é que um guitarristas tão virtuoso em solos e no power metal também soubesse timbrar um dos limpos de guitarra mais belos de se ouvir ao vivo!

mystical festival visual kei 2025
Foto: @sucodm / @erickrekishi

Nos MC’s, acompanhados de intérpretes (!!!), Kaya passou várias palavras de carinho e agradecimento para os presentes naquela noite. Também aproveitou para anunciar uma homenagem, “uma música dedicada para os céus”, cantando Pegasus Phantasy, em homenagem ao recém falecido Nobuo Yamada e Pink Spider, em homenagem ao hide, que completaria 60 anos agora em 2025.

mystical festival visual kei 2025
Foto: @sucodm / @erickrekishi

Em seguida, Közi voltou para uma apresentação solo. Mesclando três músicas de sua carreira solo e três músicas do MALICE MIZER, com nada mais que um notebook, um microfone e um sonho (?). O show inédito do artista rubro foi excêntrico da maneira como só o Közi consegue ser. Os coros se amontoavam em Illuminati e Ju te veux, e algum grau de estranheza era provocada em músicas como Dans Erebos, Color me Blood Red e ISM, esta última com coreografias bem explícitas. Afinal, se o propósito da arte é “causar choque”, como parte significante da opinião pública sustenta, então definitivamente ali houve arte. Ou por outra, as pessoas foram assistir a uma apresentação de visual shock e, lo and behold, saíram chocadas.

mystical festival visual kei 2025
Foto: @sucodm / @erickrekishi

Közi se despediu com uma gafe, jogando um “Gracias” para o público, se corrigindo logo em seguida “Gracias janai… obrigado! Te amo! Te amo! Tchau!”. Aqui confesso que o “Tchau!” extremamente bem pronunciado tocou forte no peito. E os gritos de “Közi eu te amo!!” da plateia (que se repetiram para todos os artistas!) acompanharam o artista enquanto este saía do palco, parando no meio do caminho para reger o coro da plateia.

mystical festival visual kei 2025
Foto: @sucodm / @erickrekishi

Por último, para encerrar a noite, veio o Schwarz Stein. Kaya subiu ao palco à moda Olenna Tyrell (coitado, não paro com as comparações mas a imagem não parava de vir à cabeça) e Hora largou a veste modesta no MAYOHK para dar lugar a um traje extremamente distinto e chamativo, saindo de trás da mesa mixer com um teclado personalizado e voltando à mesa apenas para algum ajuste no decorrer das músicas.

mystical festival visual kei 2025
Foto: @sucodm / @erickrekishi

A apresentação do Schwarz Stein proporcionou a maior quantidade de fanservice por metro quadrado da noite. Kaya sabia o que as pessoas queriam ver e prontamente entregou. A dupla possuía uma fortíssima presença de palco, dominando os ânimos e as emoções da plateia. Foi oportuno demais entender a dinâmica de palco do Hora em particular, até para ver como alguém aparentemente discreto conseguia interagir de forma tão eficiente com o público. Para além das chamadas e dos olhares, seu “teclado” possibilitava a interação com os samplers como uma performance à parte. Dito de outra maneira, mas que pode parecer pejorativa (longe disso!) o teclado do Hora não faz absolutamente nada. Serve puramente à performance e é muito efetivo nisso! Afinal ele sabe a hora de teclar de acordo com o tempo da música. Não é feito de qualquer jeito.

Ao final de New Vogue Children, o rodeio todo subiu ao palco para uma última interação calorosa com o público: Hizaki, Cero e Közi segurando uma bandeira do Brasil juntaram o coro da despedida. Não sem antes Hizaki dar mais trabalho para a segurança do local, se jogando da grade direto para os braços das pessoas para lá e para cá. Agora imaginem a cara impagável do pobre coitado do segurança que provavelmente nunca se imaginou tendo que fazer a segurança de um guitarrista vestindo um elegante vestido de princesa. A vida te proporciona essas cenas impensáveis e dessa imprevisibilidade vem um tanto de sua beleza.

Mas não menos belo que isso foi o coro generalizado ao som de Au Revoir, onde Közi não teve a menor condição de esconder um largo e genuíno sorriso que marcou os olhares de quem viu. Simplesmente não dava pra ser gótico e sério naquela noite. Naturalmente bem humorado pelo álcool (que quase o derrubou no palco algumas vezes) e pela sua excentricidade, o sorriso de despedida também refletia a gratidão de um artista por ter suas composições queridas e apreciadas quase 30 anos depois. 

O Mystical Festival foi de fato uma experiência mística. Afinal, se alguém me dissesse, no auge da ingenuidade dos meus 15 anos, que 16 anos no futuro eu estaria frente a frente com tantos artistas tão incríveis quanto distantes, “Nem por um milagre!” seria talvez a única resposta deste cético de longa data.

Mas quem poderia imaginar? Milagres acontecem.

SETLIST Mystical Fest 2025

MAYOHK

HK
ADAGIO
C’est si bon
Donuts
Jerry Journey
SEXY MUSIC

Kaya HIZAKI

Vampire Requiem
Curse of Rose
ROSE
Malefica
ARCADIA
Pegasus Fantasy (cover)
Pink Spider (cover)
Glitter Arch

Közi

ILLUMINATI
ISM
DANS EREBOS
HONEY VANITY
Ju te veux
Color Me Blood Red

Schwarz Stein

SE(Testament)
Perfect Garden -Regenerate-
LOVER
Release me -2025-
Haven −2025-
CREEPER
Immortal Light
New vogue children -2025-

Eriki
Eriki
Olá, sou o Eriki, redator do Suco de Mangá desde 2018, ex apresentador do Gole Otaku, programa semanal do Suco de Mangá sobre as estreias de animes da temporada, formado em História pela UFRJ e guitarrista da Matina Cafe, banda que se inspira no som do visual kei.

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