Boa Sorte é uma HQ divertida, sensível e complexa sobre uma garota que tenta lidar com o luto e com sua sexualidade. Publicada pela editora nVersos em 2023, foi escrita por Helena Cunha, ilustradora e quadrinista.
Com 264 páginas, todas coloridas, conhecemos a história de Julieta, uma adolescente que se muda para o interior depois de sua irmã tirar a própria vida. Agora, vivendo com as ordens rigorosas da avó, lidando com o divórcio dos seus pais e com a depressão da sua mãe, Julieta tenta encontrar um lugar onde ela se encaixe.
Assim, buscando compreender e dar vazão aos seus sentimentos, ela escreve cartas à falecida irmã. Por meio delas, acompanhamos o período de um ano de Julieta, durante o qual ela enfrenta o bullying na escola, controle dentro de casa e desavenças com os amigos.
Luto: um processo não linear
Se você já enfrentou a morte de um familiar ou de um amigo, deve saber que o processo para aceitar essa perda tem seus altos e baixos. Alguns dias parecem ser insuportáveis, outros são preenchidos com as alegrias da vida e tiram o foco da nossa dor.
Em Boa Sorte, esse assunto é abordado com a sensibilidade e a honestidade que merece. Aqui, Julieta sente um mix de sentimento, muitas vezes contraditórios. Sente falta da irmã, mas está magoada com ela por ter feito o que fez. Se culpa por não ter conseguido ajudá-la, mas lembra de como a irmã era irritante. Busca um sentido no que aconteceu, mas tem dificuldade de desculpa-la.
Assim, por mais que tal morte tenha sido uma tragédia, a HQ representa Julieta de uma forma completamente humana e verossímil. Afinal, isso não é algo fácil de superar e cada dia é um pouco melhor do que o outro, mas ainda terão momentos que o mundo parece ser um lugar terrível de mais para se viver.
Descoberta da sexualidade
Outra coisa que eu adorei na HQ é a forma com que a autora mostra Julieta compreendendo sua sexualidade. Não é um interruptor que clicamos um botão e pensamos “ok, descobri que eu gosto de meninas”. É uma jornada cheia de curvas, becos sem saída, constrangimentos, medos e autocobrança.
Julieta demora para falar sobre o assunto até mesmo com seus amigos, as pessoas que mais iriam compreender ela nesse mundo. Também, vemos as dúvidas, os pequenos momentos que, quando a gente cresce, nos damos conta que aquilo era um crush e as borboletas no estômago de dar o primeiro passo para fora do armário.
Conclusão
Dito tudo isso, eu me apaixonei por Boa Sorte. Sentei para ler apenas algumas páginas e só consegui parar quando terminei a HQ. É uma leitura muito sensível, mas também muito gostosa de acompanhar.
Acho que uma obra como essa é essencial para as milhões de Julietas, Lauras e Marinas que existem por aí. Uma história pra nos lembrar que tá tudo bem sentir, assim como tá tudo bem pedir ajuda. Que a nossa vida não diz respeito apenas a nós, mas como ela impacta profundamente as pessoas que nos amam. Também, que não importa o quão ruim estão as coisas, elas sempre podem melhorar.
Então, pega seus lencinhos e uma horinha do seu dia pra ver a maravilha que é Boa Sorte!
