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    Keum Suk Gendry-Kim participa de bate-papo no Centro Cultural Coreano no Brasil

    No dia 09 de dezembro, a renomada quadrinista sul-coreana Keum Suk Gendry-Kim, esteve no Centro Cultural Coreano no Brasil, participando de um bate-papo. Denise Nobre e Bruna Giglio, do Podcast Sarangbang, estiveram lá e nos contam tudo o que rolou.

    Podcast focado em literatura coreana, o Sarangbang já tem 3 episódios sobre as obras de Keum-Suk, um voltado ao quadrinho Jun, e dois destinados ao quadrinho Grama, sendo um com a convidada Ane Morais, que estuda a obra, e outro dedicado ao aprofundamento do enredo e temáticas principais.

    A autora, que veio ao Brasil para o lançamento do seu mais recente livro Meu amigo Kim Jong-un na CCXP 2024, conquistou os leitores brasileiros com sua simpatia e reflexões profundas. Apesar de ter sido uma tarde chuvosa de segunda-feira, leitores e fãs da autora compareceram em peso para um momento que foi muito mais do que uma simples conversa – tornou-se uma experiência memorável, com a grata surpresa do anúncio da sessão de autógrafos de última hora.

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    Conhecida por abordar temas sensíveis em suas obras, Keum Suk Gendry-Kim esbanjou sorrisos durante a conversa, mas foi bastante séria ao responder questões complexas do público presente. Para ela, a arte tem o poder de curar cicatrizes profundas, um sentimento que permeia toda a sua trajetória enquanto artista e escritora.

    O processo criativo: um coração aberto que conecta

    Quando questionada sobre como conduz as entrevistas que inspiram seus livros, a autora explicou: “Cada entrevistado é diferente, e eu sinto que não sou eu quem escolhe os temas, e sim que os temas me escolhem. Muitas vezes é difícil abordar as temáticas que eu trabalho, mas, se eu chegar com o coração aberto, o entrevistado se abre também”.

    Esse olhar empático e acolhedor está presente em obras como A espera, que, segundo a autora, foi inspirada parcialmente em sua própria mãe, mas também envolveu uma extensa pesquisa. Já Jun, outra de suas graphic novels, surgiu de seu interesse pelo pansori, influência direta de seu pai, que é cantor desse estilo tradicional coreano. “Na infância, eu não valorizava isso, mas, quando adulta, quis aprender. Durante as aulas, conheci Jun, um garoto autista do ensino médio, e percebi que, na Coreia, esse é um tema importante a ser discutido socialmente”.

    Keum Suk Gendry-Kim
    Fotos: Sarangbang Podcast

    A literatura coreana e o papel das mulheres

    Keum Suk também refletiu sobre o futuro da literatura coreana e o papel das mulheres nesse cenário. Para ela, os traumas históricos vividos pelo país despertam em algumas pessoas a necessidade de se expressar artisticamente. “Eu mesma era das artes plásticas e acabei descobrindo na graphic novel um instrumento para expressar meus sentimentos”. Durante a conversa, ela compartilhou que as dificuldades financeiras enquanto estudava em Paris, somadas ao fato de criar arte para galerias ser caro e pouco acessível, culminaram na sua decisão de se tornar autora de graphic novels. Segundo Keum Suk, a diferença no valor dos materiais e a possibilidade de os quadrinhos chegarem a mais pessoas foram determinantes para essa mudança de trajetória. Acrescentou ainda que historicamente a Coreia é um país patriarcal e, nos tempos da dinastia Joseon, as mulheres não podiam ser artistas. Apesar disso, ela vê um futuro promissor: “Há muitos artistas jovens, na faixa dos 20 ou 30 anos, experimentando diversas linguagens artísticas. Elas podem se tornar grandes nomes de graphic novels na Coreia”.

    Motivação e cura

    Perguntada sobre o principal motivo de sua escrita, Keum Suk respondeu que sua motivação principal é a cura. “Todos os dias eu desenho e escrevo, mas o que eu mais faço é escrever. Todo esse processo artístico é um processo de cura para mim”, afirmou, destacando que, para ela, a arte alivia o sofrimento humano e conecta experiências individuais com questões universais.

    Grama e o debate sobre as “mulheres de conforto”

    Um dos momentos mais impactantes do bate-papo foi a discussão sobre a graphic novel Grama, que aborda o tema das “mulheres de conforto”, e a contribuição de sua obra para o debate em uma sociedade coreana muitas vezes negacionista e patriarcal. “Desde o início, minha intenção foi universalizar esse assunto, não pensei em como a sociedade coreana receberia a obra, o objetivo era levar o tema das ‘mulheres de conforto’ para o mundo. É uma história de mulheres”, declarou. Ela reconhece a complexidade dos termos usados para descrever essas vítimas, explicando que há um movimento de pesquisadores tentando conscientizar as pessoas, até mesmo as vítimas, que o termo mais apropriado seria ‘escravas sexuais’, já que ‘mulheres de conforto’ parte da narrativa dos opressores, e o que de fato ocorreu foi uma violência sistemática.

    Keum Suk Gendry-Kim
    Fotos: Sarangbang Podcast

    Palavras finais marcantes

    No encerramento do evento, o diretor do Centro Cultural Coreano, Cheul Hong Kim, retomou a questão sobre a motivação da autora, feita por Bruna Giglio da equipe do Sarangbang podcast. Ele mencionou sua própria experiência ao ler Grama, afirmando “o livro é muito mais do que uma crítica aos opressores. Ele me fez entender mais e ter empatia com o acontecimento. Keum Suk traz algo que não dá para solucionar politicamente, mas que ela soluciona através da arte. E essa pode ser não só a cura para a autora, mas para as ‘mulheres de conforto’, e arrisco dizer que é uma cura histórica também”. A autora, emocionada, complementou: “O ser humano sempre sofre, mas, apesar disso, nem todo esse sofrimento se torna arte. Mas eu acredito que através da arte nós conseguimos aliviar essa dor e esse sofrimento. Ela provoca esse sentimento de cura. Durante meu processo diário de escrita e desenho, eu me sinto curada”.

    Um autógrafo especial

    Suk, como prefere ser chamada pelos leitores brasileiros, encerrou o evento com muita simpatia, conversando, tirando fotos e pacientemente desenhando personagens de suas obras nos autógrafos. Os fãs saíram com o coração aquecido e cheios de expectativas para a leitura de Meu amigo Kim Jong-un, muitos dizendo que a quadrinista é “uma fofa”.

    Novidades para os leitores brasileiros

    O evento contou também com a presença de Bruno Zago, da editora Pipoca & Nanquim, responsável pelos lançamentos de Keum Suk no Brasil. Ele revelou que já há planos para a terceira reimpressão de Grama em 2025 e mais um livro inédito da autora. A editora pretende manter a tradição de lançar pelo menos uma obra nova de Keum Suk por ano.

    Foi uma tarde inesquecível para todos os presentes, que puderam se conectar com a autora não apenas através de suas obras, mas também por meio de suas reflexões e carisma.

    Texto e fotos por Sarangbang Podcast

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