domingo, fevereiro 23, 2025
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Alcest – Les Chants de l’Aurore | Review

O novo álbum do duo Alcest, intitulado Les Chants de l’Aurore, lançado pela Nuclear Blast, é um trabalho que ressoa profundamente com a essência da discografia da banda, ao mesmo tempo que incorpora uma nova direção temática e sonora.

Conheci o Alcest em seu debut, Souvenirs d’un autre monde (2007), o que foi uma surpresa auditiva, pois não havia escutado nada igual até aquele momento. Na verdade, a identidade de Neige perdura, mesmo com leves adições de elementos de outros estilos musicais ou se afastando da estética do metal extremo.

Ao ouvir pela primeira vez Les Chants de l’Aurore, me evocou Anathema – We’re Here Because We’re Here, outro álbum que eu gosto muito e que também traz algo dessa estética da renovação, alvorecer e tonalidades mais quentes.

Um Chamado à Natureza

Fazendo uma breve interpretação sobre a capa, a arte etérea e onírica serve como uma janela para o conteúdo introspectivo e místico das músicas que compõem Les Chants de l’Aurore.

A luz suave e dourada também confere uma sensação de calma e paz, refletindo o tom mais otimista e “para cima” do álbum, em contraste com os trabalhos anteriores da banda, que muitas vezes exploravam temas mais sombrios e introspectivos. Lembrando que grande parte da discografia traz tons mais frios.

A imagem, que apresenta uma figura feminina nua tocando uma flauta cercada por aves majestosas em um campo ao amanhecer, é rica em simbolismo e profundidade, refletindo a jornada sonora que a banda oferece. Gosto de quando Capa, Música e Letra encapsulam a essência do álbum, e como vamos ver mais pra frente, acontece por aqui também.

Faixa a Faixa: Uma Jornada Através da Aurora

“Les Chants de l’Aurore” é, de fato, um canto ao nascer do sol, uma celebração da renovação e da esperança, em contraste com os tons mais sombrios e introspectivos dos primeiros trabalhos da banda.

Este álbum é uma viagem musical que mistura o blackgaze característico de Neige e Winterhalter, com elementos do folclore, inclusive do japonês já visto em Kodama (2016), criando uma paisagem sonora rica e diversificada.

1. Komorebi

A abertura do álbum, “Komorebi,” é uma faixa que imediatamente transporta o ouvinte para um mundo de renascimento e descoberta. Com uma letra que fala de uma manhã de abril e a necessidade de renascer, a música combina guitarras atmosféricas com uma melodia que exala otimismo.

Os vocais suaves e etéreos de Neige são como um sopro de ar fresco, complementados pelo prato de condução da bateria, que sobressai na mix propositalmente em alguns momentos do verso. Em complemento, a capa aonde vemos uma figura feminina tocando uma flauta (instrumento frequentemente associado à banda), simboliza muito bem esta abertura de disco. Um chamado à natureza.

Abaixo, destaco o trecho inicial e uma tradução livre.

Ce matin d’avril affleurant
Je me dois de renaître
En une exaltante floraison
Pour rencontrer mon âme

Esta manhã de abril florescendo
Eu devo renascer
Em um florescimento exaltante
Para encontrar minha alma

2. L’envol

Em “L’envol,” Alcest leva os ouvintes a um voo imaginário com uma coorte sobrenatural de aves paradisíacas, algo bem explorado no clipe que podemos ver mais abaixo. Em várias culturas, as aves são vistas como mensageiras entre o céu e a terra, simbolizando a comunicação entre o mundo físico e o espiritual.

Seul avec mes souvenirs si chers
L’âme enfin vibrante et libérée
Bien loin
De la surface de la Terre

Sozinho com minhas lembranças tão queridas
A alma finalmente vibrante e libertada
Bem longe
Da superfície da Terra

O instrumental já é o conhecido e característico do Alcest, com guitarradas em semicolcheia e um andamento de bateria que varia do mais dançante ao mais violento em seu clímax. As letras evocam imagens vívidas de um mundo além da superfície da Terra, onde a alma finalmente encontra sua libertação. O ponto alto da música com o gutural é algo de arrepiar. Bonito demais e minha preferida do álbum!

3. Améthyste

“Améthyste” é uma faixa que mergulha profundamente nas temáticas existenciais, abordando a sensação de alienação e o desejo por uma realidade alternativa. Em algumas culturas, a Ametista têm o poder de aliviar as tensões mentais, uma facilitadora para mudança de um estado de consciência normal ou de vigília para um estado meditativo.

A música é pontuada por passagens instrumentais hipnotizantes que refletem a dor e a busca por algo mais significativo. A combinação de guitarras distorcidas e vocais angustiados rasgados cria uma atmosfera poderosa na segunda metade da canção. Rola até um pedal duplo camufladinho em seu clímax.

4. Flamme jumelle

Com “Flamme jumelle,” Alcest explora a persistência da memória e a busca incessante por uma conexão perdida. As letras falam de dias que passam sem mudanças e a falta incessante de um fogo interior.

Apesar de ser a música mais “simples” do disco, traz uma mescla de melancolia e esperança, com arranjos instrumentais diretos que capturam a essência de uma jornada emocional intensa. Vai ser uma boa pedida para o duo fazer Voz(es) e Violão(es).

5. Réminiscence

“Réminiscence” é uma peça instrumental com vocalizações e serve como uma ponte entre os temas explorados nas faixas anteriores. A música é uma meditação sonora, onde o piano e a viola da gamba (som parecido com de um violoncelo) se entrelaçam para criar uma tapeçaria de memórias e reflexões. É um momento de pausa e contemplação antes de seguir adiante na jornada do álbum.

6. L’enfant de la lune (月の子)

Nesta faixa, Alcest mergulha profundamente na estética e nos temas do folclore japonês. A música é um tributo à beleza efêmera da noite e à dança das estrelas com letras em japonês, que adicionam uma camada de autenticidade e mistério.

L’enfant de la lune é uma combinação sublime de melodia e ritmo, iniciando com uma voz feminina declamando em japonês, acredito que de Haruna Nakaie e vira na sequência para um blast beats em contraste.

今宵 星たちは踊る
希望を蘇らせるために
星たちは踊り ため息をつく
波の刻む リズムに合わせて
そして私たちを見守る穏やかな月が
浜辺の上に昇り
眠れる黒い水の中へ再び落ちてゆく
私たちの魂の奥底へ 流れ込んでゆく

Esta noite, as estrelas dançam
Para reviver a esperança
As estrelas dançam e suspiram
Ao ritmo das ondas
E a lua tranquila que nos observa
Sobe sobre a praia
E novamente afunda nas águas negras adormecidas
Penetrando profundamente em nossas almas

7. L’adieu

Encerrando o álbum, “L’adieu” é uma despedida emocional que reflete sobre a passagem do tempo e a inevitabilidade da separação. A música é uma balada melancólica, com uma produção que destaca a vulnerabilidade e a honestidade das letras. É um final apropriado para um álbum que celebra tanto a beleza quanto a dor da existência.

J’ai cueilli ce brin de bruyère
L’automne est morte, souviens-t’en
Nous ne nous verrons plus sur terre
Odeur du temps, brin de bruyère
Et souviens-toi que je t’attends

Eu colhi este ramo de urze
O outono morreu, lembre-se disso
Não nos veremos mais na Terra
Cheiro do tempo, ramo de urze
E lembre-se que eu te espero

Conclusão: Um Álbum para a Alma

Les Chants de l’Aurore é uma obra que destaca o talento de Alcest em criar paisagens sonoras que são tanto profundamente pessoais quanto universalmente ressonantes. A combinação de elementos do blackgaze com influências do folclore japonês resulta em um álbum que é ao mesmo tempo inovador e fiel às raízes da banda.

Este álbum é, sem dúvida, um canto da aurora, uma celebração do renascimento e da esperança, uma obra de arte completa e integrada, tanto visual quanto sonoramente.

Les Chants de l'Aurore
Winterhalter e Neige / Foto de @w_lacalmontie / Maquiagem @luciebttn / Nuclear Blast 2024

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BELLAN
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O #BELLAN é um nerd assíduo e extremamente sistemático com o que assiste ou lê; ele vai querer terminar mesmo sendo a pior coisa do mundo. Bizarrices, experimentalismo e obras soturnas, é com ele mesmo.

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