Neste review vamos retornar à uma história que eu fiz o Primeiro Gole, uma publicação de Yuka Nagate e coleção belíssima da Pipoca & Nanquim. Vamos falar sobre Borboleta Assassina e o dilema da nossa protagonista caçadora.
-
-
- Leia também: Borboleta Assassina | Primeiro Gole
-
A obra foi lançada originalmente entre 2010 e 2013, sendo o trabalho de maior renome da autora. Além disso, a coleção possui apenas três mangás, fácil fácil de completar.
O terceiro volume da Pipoca & Nanquim, inclusive, conta com uma arte feita exclusivamente para a edição brasileira. Chique, né?
Também no terceiro e último volume, vemos a ilustração mais linda que eu já vi de Ochou, com um sorriso tão puro e sincero que aquece o coração.
Outra coisa bem legal, possível de perceber com a coleção completa, é um detalhe sutil das capas. Um lado parece mostrar a Kochou, cortesã de luxo, e o outro a Ochou, assassina implacável. Pode ser impressão minha? Sim, mas você terá que tirar suas próprias conclusões.
Enredo
Vamos falar brevemente sobre o enredo, para retomar a memória.
Kochou é a cortesã de luxo mais bela, desejada e inalcançável de Yoshiwara, o bairro da Luz Vermelha de Edo (antiga Tóquio). No entanto, este é apenas um disfarce para sua verdadeira profissão.
Ela, na verdade, se chama Ochou e é uma caçadora shinobi que tem o dever de assassinar ninjas que caíram na criminalidade. Entre missões casuais e encontros com fantasmas do seu passado, Ochou vive na dualidade entre cumprir seu papel e suportar a quantidade de sangue em suas mãos.
Além disso, paralelo à sua história, acompanhamos o cenário político da época, em que uma incansável caçada aos cristãos estava acontecendo. Por todos os lados os devotos dessa religião forasteira se escondem e são assassinados, aumentando o clima de tensão.
Entre os personagens que Ochou conhece, estão um padre que busca fazer do Japão um paraíso aos cristãos e seus devotos, além de cortesãs e religiosos que oscilam entre aliados e inimigos.
Assim, buscando a relação deles com shinobis desgarrados, a caçadora se envereda numa trama política que a leva numa missão de vida ou morte no castelo do xogum.
Ochou conseguirá cumprir sua missão como caçadora sem deixar seus sentimentos atrapalharem? Ou irá para o outro lado em busca da sua liberdade?
Fidelidade à história
Primeiro, é necessário exaltar Yuka Nagate por se ater tão bem à história japonesa, seja em vestimentas e costumes ou figuras conhecidas.
Vários personagens que vemos na história realmente existiram, assim como alguns acontecimentos e até mesmo rumores da época relacionados ao xogum vigente.
Enfim, o legal do gênero jidaigeki é ler uma ficção com um embasamento rico e fidedigno, aumentando nosso repertório sobre cultura japonesa. Gosto muito.
Borboleta Assassina
Por algum tempo me perguntei sobre o nome do mangá e depois de alguma reflexão consegui pensar em algumas coisas.
Como cortesã, Kochou é graciosa, delicada e uma verdadeira dama. Suas vestes coloridas e esvoaçantes realmente lembram uma borboleta. Ao mesmo tempo, quando ela põe sua roupa de shinobi vira uma assassina profissional, silenciosa, astuta e sem emoções.
Na verdade, eu menti. Ochou tem uma enxurrada de emoções, ela é muito sentimental, mas sabe abafar esses sentimentos. Ou melhor, sabe cumprir seu dever mesmo diante deles. Pelo menos em algumas situações…
De qualquer forma, Borboleta Assassina é a melhor explicação que existe para ela. Ela é belíssima, linda de morrer (literalmente), mas matará quem for preciso para cumprir seu papel. Acredito que esse nome ilustra bem a dualidade da nossa protagonista.
Pontos fracos e fortes
Agora, vamos falar sobre minhas impressões sobre o mangá.
Gostei da forma que a autora retratou as mulheres, na maior parte do tempo. Elas são sensuais, lindas, mas são fortes, inteligentes e muitas vezes ardilosas. Algumas vezes são indefesas, mas também vilãs malucas.
No entanto, Nagate colocou a Ochou em algumas situações que eu quis jogar o mangá na parede. Diante do seu primeiro amor ela vacila, se distrai e se descaracteriza de tudo que a faz ser essa caçadora tão temida. Claro, isso ilustra esses dois lados que ela vive em conflito, mas em alguns momentos parece não fazer sentido.
Além disso, outro ponto de destaque é que os dois últimos volumes tem cenas de sexo explícito, mas sem ser explícito. Não é um pornô, mas ilustra bem como o sexo excerce uma relação de poder entre os personagens — seja consensual ou não.
Em relação à trama principal, tenho duas opiniões. No que diz respeito à caçada aos cristãos, as aspirações dos personagens secundários, as lutas e os assuntos que envolve isso, achei super bem desenvolvido. Tem muita ação, jogos políticos, alianças, reviravoltas, conflitos éticos e, claro, matança.
Além disso, como falei acima, traz uma carga histórica bem grande de acontecimentos reais, como rebeliões, invasões, guerras, enfim. Então, sobre isso, fiquei feliz e angustiada (de um jeito bom) sobre como as coisas se desenrolaram.
Por outro lado, no que diz respeito à história pessoal de Ochou eu me decepcionei um pouco. A autora alongou determinado assunto a história inteira, grande parte do drama da protagonista girava em torno daquilo e no final…. Parece que isso perdeu um pouco a importância. Terminei de ler incrédula por perceber que todo aquele drama não recebeu a atenção que merecia no fim.
Considerações finais
Dito tudo isso, vamos analisar Borboleta Assassina como um todo.
O desenho é LINDO, um dos mangás mais lindos visualmente que eu já vi. A Ochou por si é uma deusa maravilhosa e só por isso já merece um lugar nos nossos corações.
O terceiro volume traz uma nova perspectiva interessante, principalmente no arco dentro do Castelo de Edo, mostrando a Ochou, literalmente, com uma nova roupagem. Também, teve uns momentos cômicos que eu gostei, mas não entendi porque só estavam no final, por exemplo com a Ochou versão chibi.
Além disso, comentei no Primeiro Gole que a autora deu uns tropeços no desenho, com olhos vesgos e proporções distorcidas, mas isso melhorou muito ao longo do desenvolvimento do mangá. Inclusive, conseguimos ver a diferença só olhando as capas dos três volumes, como o traço está muito melhor.
A parte histórica, maravilhosa. Os personagens secundários são interessantes e cativantes, tendo lugares importantes e decisivos. A história se divide em duas coisas, uma muito boa e a outra meio decepcionante.
Veredito
Pesando tudo isso na balança dei minha nota, principalmente por conta desse fim que pareceu ser às pressas.
Porém, eu nem sei explicar direito o motivo, mas é uma história que desenvolvi um carinho especial.
Talvez pela humanidade tão verdadeira de Ochou, que segue perdida tentando se encontrar e dar o seu melhor, mesmo que pense em desistir de tudo às vezes. Ou por ser uma história envolvente (por exemplo, um dia eu sentei pra ler apenas um capítulo e li quase o volume inteiro) que nos prende na leitura, não sei.
Seja o motivo que for, Borboleta Assassina é uma obra que não existe igual. Sensível, sensual, violenta, melancólica, bela e política, é um pacote completo. Então, eu com certeza recomendo a leitura, seja pra admirar esse traço maravilhoso de Yuka, ou pra se apaixonar por essa cortesã misteriosa. Independentemente do motivo, você não vai se arrepender.