“Aquele dia eu estava feliz, minha mãe me daria um presente de natal, situação que é muito mais mágica e memorável quando se é um menor de idade desempregado.

Chegamos à loja rapidamente, enquanto eu passeava pelas prateleiras uma coisa chamou a minha atenção, uma mascara; só tinha isso na capa.

Segurei-a em minhas mãos juvenis e perguntei ao vendedor sobre o exemplar que tinha comigo, ele me disse que dificilmente iria me arrepender de ler aquilo com um olhar muito sério, quando sai da loja eu carregava alguns volumes de Full Metal Alchemist “meio tanko” e também V de Vingança.

Eu realmente não me arrependo.”

Capa nacional de V de Vingança (Editora Panini)

Sinopse: Esta pretende ser uma história sobre perda de liberdade e cidadania, em um mundo possível. Encenada em uma Inglaterra de um futuro imaginário que se entregou ao fascismo, procura capturar a natureza sufocante da vida em um estado policial autoritário e a força redentora do espírito humano que se rebela contra essa situação. ‘V de Vingança’ tem o intuito de trazer profundidade de caracterizações e verossimilhança a este conto de opressão e resistência.

Uma obra relevante

Antes de continuar com meu texto me sinto na obrigação de deixar uma coisa bem clara: sinto que sou pequeno ao escrever sobre V de Vingança. Você concorde ou não comigo essa é uma HQ que está em outro patamar de importância, tanto para os quadrinhos quanto para as pessoas do mundo como um todo.

A máscara usada por “V” é um símbolo muito forte e frequentemente vinculado à mudança. Seja ela pacifica ou não, sabendo disso não vou me prender a uma analise histórica, nem em uma dissecação com precisão cirúrgica sobre ela, esse não é meu intuito com esse texto, existe TCC sobre isso, gente muito mais estudada e competente escreveu sobre, vídeos, documentários sobre o autor, ou seja, caso o interesse pesquise mais sobre, vai fundo. Você não vai se arrepender.

Questionamentos nos levam além

Durante toda a obra vemos várias visões sobre o que está acontecendo na realidade proposta dentro da HQ, no caso uma Londres completamente fascista e autoritária, em meio a esse caos de ideais somos convidados a questionar várias linhas de pensamento, sendo elas provenientes de personagens ou de nós mesmos durante a leitura, o questionamento está ali o tempo todo, é o combustível que leva tanto os personagens quanto nós mesmos a mudança.

É desse tipo de pensamento que surgem as passagens mais memoráveis da narrativa, dessa incerteza que se faz presente tanto na nossa realidade quando na da HQ , isso faz uma diferença monumental na leitura, enriquece tanto o personagem quanto o meio em que ele está inserido, deixando a obra mais próxima de nossa realidade de forma quase assustadora e claro genial.

Um estado de plenitude

Quando consumimos alguma obra seja ela com um intuito lúdico ou não, independente de gêneros ou publico alvo, esperamos no mínimo que sua conclusão nos traga um sentimento de plenitude, que seja uma experiência completa em sua totalidade, que seu termino não deixe tantas pontas soltas a ponto de irritar o consumidor – Bleach manda abraços – porém é um fato que hoje muitas das coisas que consumimos deixam a desejar no quesito coesão, chega a parecer que o autor não leva muito a sério o próprio consumidor ou mesmo o que está produzindo.

Com V de Vingança vemos algo completamente diferente disso, Moore juntamente com Lloyd (e o restante da equipe claro), criaram e deram seguimento a sua criação de forma tão coesa e orgânica, tanto no roteiro quanto na arte, que conversam entre si de forma sólida e muito bem pensada, que é difícil não gostar dessa historia e lembrar dela com sentimentos positivos.

Todos os personagens, capítulos, locais, cenas, tudo isso tem seu motivo para estar ali, tanto que ao final da HQ todos esses elementos se mostram tão essências que não seria possível descartar qualquer um deles, o que consolida V de Vingança como uma obra obrigatória a fãs de quadrinhos e de uma boa história.