Ao contrário do que podemos pensar quando vemos um título – este no caso –  da Kyo Hatsuki, Tararebanão é nada do que pode parecer se você logo se lembrou de Love Junkies – título mais famoso da autora.

Este trabalho lançado em agosto de 2011 é uma obra voltada para o público adulto que busca uma estória fictícia da natureza humana.

A dupla Rinka e Hiten

Apesar das cinco estórias serem “separadas”, as duas garotas  são as únicas personagens que aparecem em todos capítulos e que fazem esta ligação para o desfecho da trama.

Elas moram em um templo e são as responsáveis em fazer com que os humanos voltem no tempo. Para isso, o humano deve abdicar da coisa que mais ama/mais importante da sua vida. Trato feito, a pessoa volta no tempo 3 minutos antes da “cena” escolhida.

Rinka é uma jovem de personalidade forte, sensual e gosta de satirizar algumas ações de humanos. A jovem é a responsável pelo ritual de “viagem no tempo”. Já Hiten é uma criança e diferente de sua companheira Rinka, age de forma mais “adulta”, severa e consciente.

Assim como Rinka, as duas moram no templo de ‘Kishimojin’, mas diferente da jovem, Hiten parece estar mais próxima da deusa. *Há momentos em que Hiten demonstra ter um poder mágico mais latente.

Dos 5 capítulos de Tarareba

O primeiro conto, mostra a estória de um jogador de beisebol, Hinomoto, que para defender seu time, dá tudo de si. Em uma partida e num momento de decisão, a vitória de seu time estava em suas mãos.

O salto e o esforço de seu corpo foi tão grande que, além de não conseguir fazer a jogada, acabou lesionando seu corpo. Isso fez com que assinasse sua aposentadoria. Impossibilitado, ele clama e sonha por sua vida de jogador de volta.

Já o segundo capítulo, mostra uma mulher – Natsuko – muito bem sucedida no meio empresarial em que atua. Só que nada são a mil maravilhas. Possui problemas com seu ex-marido – que vira e mexe vem pedir dinheiro para ela. Além disso possui uma filha, que ela diz amar muito.

Em um dia destes e em uma destas discussões com seu ex, a mulher acaba passando mal e vai para o hospital. Consequentemente, sua filha que estava na escola, recebe a ligação de sua mãe que está internada, sai correndo na bicicleta e acaba morrendo atropelada. Agora Natsuko é surpreendida com uma chance de voltar no tempo para resolver esta tragédia.

A terceira estória é de Sakai, uma jovem estudante que passa na universidade de Tóquio para estudar artes. Após se formar e ter uma vida bem sucedida, percebe que algumas coisas do passado foram deixadas de lado – como algumas amizades – o que a faz pensar melhor sobre esta vida atual.

Já o quarto conto mostra o relacionamento entre Eita e Naomi, que por momentos de arrogância do homem em questão, acaba enfraquecendo e consequentemente com o término da relação.

O último capítulo, o que conta a estória de Rinka é a cereja do bolo de Tarareba. Apesar dos contos separados serem bacanas, a surpresa da trama de Rinka é bem interessante. É aí que entendemos quem pode ser Hiten e da história da deusa Kishimojin.

Para qual momento do passado que mais gostaria de voltar em troca da segunda coisa mais importante para você?

O interessante de Tarareba é de que a autora conseguiu concretizar seu trabalho condensando muito bem os fatos explorados. Ela não deixa furos no roteiro e não abre muitas janelas.

Todos os cinco contos possuem uma linearidade, com apresentação do problema/personagem, o encontro com as garotas, o clímax de resolução e o desfecho. Em cima disso ela trabalha com o diálogo e simbologias que acrescentam no conceito como um todo,  que o leitor vai poder desfrutar e “organizar” as ideias, depois que ler o último conto, o de Rinka.

Outro fator bacana é do humanismo explorado na trama. Rinka e Hiten, as mais próximas da deusa, se expressão como os humanos. Já os humanos, agem como um… claro. Por estar voltado para um público mais velho, não há personagens estereotipados. Todos erram e não apresentam a característica maniqueísta de Bem e Mal; Agem como devem agir e pagam pelas suas ações.

Isto está exemplificado em cada conto de Kyo Hatsuki (e nos contos em que teve uma ajuda na ideia), onde nem sempre pode acabar como desejamos.  Há uma frase fantástica de ‘Rinka’ no início da obra que pode exemplificar isso: “O destino é o acúmulo de escolhas feitas a cada instante. A partir do momento em que tomou uma decisão, a responsabilidade do que venha acontecer é sua, mesmo se algo der errado”.

Qualquer pessoa já pensou ao menos uma vez em voltar no tempo para refazer alguma coisa.

Da questão técnica, o traço da autora cumpre para o que se propõe, utilizando de muitos quadros brancos + personagens. Com isso, o detalhe de cenário é perdido, porém, por ser uma trama mais “sentimental”, os traços de emoções de cada personagens estão incríveis.

Outro quadro de destaque da autora é quanto ao capítulo 3, da Sakai, onde as flores cerejeiras caem próximo ao terminal ferroviário.

Enfim, Tarareba cumpre seu papel e surpreende por este lado roteirístico mais profundo de Kyo Hatsuki. Vale cada página vista e frase lida. O que acabou pecando é quanto a ser “curto”. Ficamos com o gostinho de querer mais. Outro fator que  você leitor pode notar, é quanto a abordagem de “você vai perder a segunda coisa que mais ama”.

As personagens, encaram isso na boa e pouco pensam sobre. Mas é fato que a autora não podia desenvolver esse lado mais intimista de cada um, já que tinha um espaço curto para a escrita.

Algumas dicas para complementar a leitura:

  • Se você leu e gostou, tente procurar pelo significado “místico” das romãs 😀
  • Procure saber e conhecer mais a fundo a história da deusa Kishimojin
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Capa da Nova Sampa de Tarareba (Imagem Divulgação)

Por aqui, o volume foi lançado pela editora Nova Sampa e tem a edição de Marcelo Del Greco, por um valor de R$ 12,90.

REVIEW
Tarareba
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BELLAN
O #BELLAN é um nerd assíduo e extremamente sistemático com o que assiste ou lê; ele vai querer terminar mesmo sendo a pior coisa do mundo. Bizarrices, experimentalismo e obras soturnas, é com ele mesmo.
tarareba-reviewA palavra Tarareba se refere às histórias do tipo ‘e se’, que se referem à acontecimentos anteriores, aos quais a pessoa relembra pensando no ‘e se tivesse sido diferente’. Na história, Kaori, Rinko e Koyuki são três mulheres solteiras que passaram dos 30 anos. As três não esperam continuar solteiras e, antes das Olimpíadas chegarem, pensam no que podem fazer a respeito.